segunda-feira, 27 de maio de 2013

27 – Maio (domingo). [1990]

        Acabou ontem ou anteontem mais um congresso do PCP. Aliás este é o tempo dos congressos como das cerejas. Mas o PCP é o que mais espevita a curiosidade para sabermos como é que ele se desenrascou do codilho de Leste. Ora. Desenrascou-se muito bem. Cunhal garantiu que o material teórico e prático era bom e estava para durar. E os desvarios dos do sol da Terra, que vem do Oriente como está programado, os tresvariados que os digerissem. Por cá, tudo bem e é o que importa. As pessoas de alma cândida imaginavam que os fiéis da religião comuna iriam querer pedir contas, esclarecimentos, discussão. Mas as poucas que ousaram discutir foram vaiadas e cuspidas. Agora, o que se estranha é que isto se estranhe. Mas jamais os fiéis de uma crença desejaram que ela se discutisse. O que se exige é que ela se cumpra e que alguém tome sobre si a responsabilidade de o garantir. E para isso lá estava o Cunhal. A discussão «colectiva» é coisa que ninguém quer e é assim estúpido e ofensivo acusar-se Cunhal de a impedir. A discussão não se quer para a religião continuar. Uma crença não se elucida, uma crença afirma-se. Cunhal sabe-o muito bem e por isso chamou a si os temores dos fiéis. Quem vai à bruxa não é para discutir com ela, mas para se investir da paz que virá dela e para isso é que lhe paga. Cunhal era a bruxa. E quem pôs em dúvida o seu poder e saber só não foi queimado porque há agora uma vigilância muito apertada contra os pirómanos.
V. Ferreira

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