Depois do aéreo deslumbramento do maciço da Chela e do abissal
fascínio da Tundavala, a
rasa emoção do cemitério da missão católica da Huíla. Aqui jaz… Aqui jaz…
Aqui jaz… E são nomes de todas as nacionalidades, portugueses, belgas,
franceses, alemães, inscritos lado a lado em humildes lousas iguais, seguidos
de uma inscrição trágica: falecido com 24 anos, com 45, com 51, com 32 … Nomes
de homens que vinham ao encontro da morte certa e prematura por conta de Deus e
do semelhante. Por conta da fé, da esperança e da caridade. Há outras epopeias
a admirar também no planalto. A dos colonos madeirenses, por exemplo, que
desembarcaram nas areias de Moçâmedes,
subiram a serra em carros de bois, desbravaram, semearam e sucumbiram, e de que
restam apenas os descendentes pobres, os chicoronhos, resíduos humanos sem
ombros sequer para suportar o mito dos pais. Mas o que se faz impelido pelas necessidades
do corpo há-de ficar sempre aquém do que se faz obrigado pelas exigências da
alma. Muito embora a transcendência se possa atingir de várias maneiras, a
dádiva abnegada da vida é de longe a mais absoluta. Quase apostava que aquele
campo santo será no futuro da pátria angolana um panteão nacional. Ou a
ressurreição de Cristo e a fraternidade humana deixarão de ter sentido nestas
paragens.
Miguel Torga
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