Levas e levas
de peregrinos em direcção a Fátima. E estrebuchem no papel os livre-pensadores.
Se não há sobrenatural, como eles afirmam, há pelo menos necessidade de
transcendência. Elêusis,
Delfos, Meca, Compostela, Lourdes e outros locais onde o
céu e a terra se confundem são a mesma Cova da Iria renovada no
tempo. O ar miraculoso que ali se respira, mesmo que fraudulento, vem ao
encontro de apetências recônditas do nosso sub-consciente. O homem é um crédulo
envergonhado quando tem de acreditar sozinho. Mas, se encontra companheiros de
fé, desafia todas as críticas e absurdos. Apoiado no número, desinibido, faz de
chavascais lugares santos, que visita sempre que pode, carregado das suas
atribulações. E, em procissão, vai-as alijando pelo caminho, até que, despojado
de todas as gangas mundanais, tem acesso disponível às nascentes sagradas que,
parecendo manar do chão bendito que pisa, lhe brotam de dentro da própria alma.
Miguel Torga
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