Gostaria de não voltar à provocação
congeminada pelo grupo Jerónimo Martins contra o feriado do 1.º de Maio e a
luta dos trabalhadores portugueses pelos seus direitos, mas a culpabilização
que por aí tenho visto dos consumidores, na sua maioria pobres (e é desses que
falo), que literalmente assaltaram as lojas Pingo Doce para conseguir géneros
alimentares a metade do preço é, para mim, incompreensível.
É certo que nem só de pão vive o homem,
mas dizer isso a quem tem fome (fome de pão tanto como de justiça) parece-me
uma crueldade inaceitável.
Como inaceitável é a condenação dos
trabalhadores do Pingo Doce – em geral precários e com salários brutos
inferiores a 500 euros – por terem cedido à chantagem da empresa, furando a
greve para, mesmo humilhados e ofendidos, poderem manter o emprego. Por um
humilhante e extenuante dia de trabalho terão recebido um salário/dia a
triplicar, cerca de mais 30 euros; e, sobretudo (quem os culpará?), a
possibilidade de obterem também alimentos com 50% de desconto.
Alexandre Soares dos Santos tem uma agenda
política e, com total insensibilidade social e moral, pôs as suas lojas, os
seus trabalhadores e os seus clientes ao serviço dessa agenda. Alguma coisa,
além de comida a metade do preço por um dia, os portugueses ganharam com isso:
viram o rosto que está por detrás da máscara.
JN, 03/05/2012 - M. A. Pina
Sem comentários:
Enviar um comentário