Portanto, vinda a Lisboa. Há um
jantar a cumprir na sexta, devido a uns amigos – a um deles há já uns três
anos. Mas na velhice é assim, o tempo significativo conta-se por décadas ou
coisa parecida. E aqui sentado no meu sofá, ponho a girar no prato do aparelho
um disco com uma missa de Pierre
Henry que já tenho e ouvi há anos, mas que já esquecera. E na primeira face
do disco, que já acabou, a missa é cantada numa só nota grossa, muito parecida
com a do porco. Viro o disco e ouço uma berraria áspera e sempre com um fundo
guinchado e raspado de música. Que é que isto quer dizer? Nos jornais culturais
o que é agora novidade é a «morte dos valores», a perda de sentido após a
derrocada do Leste – mesmo para a reacção (também já o disse no meu texto do Diário de Lisboa), o vazio de que já
falei há dezenas de anos. E à mistura com isso, nomes de escritores, ensaístas
e cronistas políticos. E em saldo de tudo isso o reconhecimento de que sou
tremendamente ignorante. Mas vale a pena aprender? O que aprendesse não entrava
na organização do que aprendo. Custou-me muito a aprender, não o vou agora
deitar ao lixo para pôr lá o lixo futuro. Sou imensamente ignorante. Mas é
extraordinário como isso me não põe rubor na alma. Ouço a missa grunhida do
disco. O saber que não tenho, tem esta música no seu interior. Que se cozam.
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