Foi "com tranquilidade mas com
convicção" que o ministro das Finanças assegurou ao Parlamento, onde
estava a ser ouvido sobre o controverso Documento de Estratégia Orçamental:
"Eu não minto, eu não engano, eu não ludibrio" (poderia ter usado
mais sinónimos, mas ficou-se sensatamente por aqui).
A solene declaração de Vítor Gaspar foi suscitada
pela intervenção do deputado do PCP Honório Novo, que o acusara daquelas coisas
feias todas por o documento entregue em Bruxelas ter chegado à AR sem o Anexo
II, com previsões sobre o desemprego nos próximos anos.
Fosse Vítor Gaspar teólogo, e não economista, e
Honório Novo filósofo, e não engenheiro, e a Assembleia teria ontem assistido a
um estimulante debate acerca das singularidades do conceito de
"verdade". Não mentir, não enganar, não ludibriar implicará falar
verdade? E omitir?, terá omitir, além de semelhanças fonéticas, afinidades
semânticas com mentir? Será a verdade "toda a verdade e nada mais que a
verdade" ou uma parte da verdade já é verdade que baste?
Seria um diálogo de surdos, tão instrutivo como o
diálogo que também houvesse sobre o conceito de "ajuda" aplicado ao
chamado memorando da "troika". Poderiam ser ambos enviados para
Bruxelas como Anexo III, mas Bruxelas ligar-lhes-ia tanto quanto a realidade
liga aos números do desemprego do Anexo II.
JN, 10/05/2012 – M. A. Pina
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