Do mesmo modo que, para um político, designadamente um
governante, o melhor modo de manter a sua imagem a recato é não ter no passado,
e se possível no presente, nada que o envergonhe (ou, não sendo ele de se
envergonhar, que envergonhe os seus eleitores), está visto que o problema da
independência dos jornalistas é terem vida privada.
Um jornalista com vida privada está sempre exposto a
que um político, designadamente um governante, o ameace de a revelar
publicamente. Eu, por exemplo, deixaria de escrever a maior parte destas
crónicas se um governante me ameaçasse que, caso continuasse a fazê-lo,
revelaria publicamente que ando com buracos nas meias, coisa que hoje já todo o
Governo deve saber pois falei disso ao telemóvel com a minha empregada e o SIS
está, como se sabe, na dependência directa do primeiro-ministro.
A jornalista do "Público" que agora se
queixa de ter sido ameaçada pelo ministro Miguel Relvas com revelações sobre a
sua vida privada no caso de persistir em investigar as suas relações com um
certo (ou incerto) espião não se teria visto em tais apuros se não se desse ao
luxo de, além de vida profissional, ter vida pessoal.
A modesta proposta que apresento à Comissão da
Carteira Profissional é que seja vedado aos jornalistas, de modo a blindar a
sua independência de ataques suicidas como o do "Público", ter vida
privada.
JN, 22/05/2012 – M. A. Pina
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