O
deserto ainda, mas agora palmilhado, rodado, sobrevoado. Areia, areia, areia, e
milagres geométricos do vento, milagres pictóricos da luz, milagres musicais do
silêncio. Um mundo seco, estéril, asséptico, esquecido dos homens que o
semeavam, das raízes que o sugavam, da água que o refrescava. Um mundo onde
nenhum poema de esperança teria sentido e nenhum poema de desesperança pode ser
ouvido. A majestade da velha deusa Terra numa altivez olímpica, sem um
resquício de amor maternal a traí-la numa lágrima, num sorriso, num gesto. A
indiferença surda e muda, apenas ondulada aqui e além numa espécie de
feminilidade perversa.
Miguel Torga
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