terça-feira, 21 de maio de 2013

S. Martinho de Anta, 21 de Maio de 1977

S. Martinho de Anta, 21 de Maio de 1977 – Um filme que, por obra e graça, fiz passar de inventário biográfico a documentário cenográfico. Depois de muito batalhar, lá consegui que a objectiva, que porfiava em ter-me ao seu alcance, mudasse de direcção. E foram montes, abismos, horizontes, mamoas, alinhamentos, altares pagãos, inscrições, cavadores e sementeiras que ela acabou por registar na película, sem que ninguém suspeitasse de que aquelas imagens é que eram a minha verdadeira imagem. Cingidos a uma aparência que parece bastar-se, poucos dos muitos que julgam conhecer-me são capazes de compreender que só através da perene evidência destas realidades primordiais e ancestrais, com que, desde o nascimento, vivo identificado, o meu rosto tem expressiva configuração. Que é numa vessada que eu mourejo, numa encomendação das almas que canto, e nos socalcos de cada encosta que ganham sentido as rugas que me pautam a testa.

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