Quanto mais me aventuro pelas veredas da nossa literatura e mais desabafos
releio dos irmãos de ofício, mais se arreiga no meu espírito a convicção de que
em Portugal todos os verdadeiros escritores escrevem em tensão negativa. Com
raiva, com sarcasmo, com ironia ou com amargura. É ver as páginas azedas
espalhadas pelo melhor da obra de cada um. A paz de uma grafia sem crispação
não é connosco. Tudo o impossibilita, desde o meio hostil em que vivemos,
incapaz de compreender o acto criador, às próprias relações inter pares, sempre difíceis e
tormentosas. De aí que façamos da caneta um estadulho, um cautério, uma seta
ervada ou um cilício. Um instrumento, ao mesmo tempo, de agressividade e de
maceração.
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