terça-feira, 7 de maio de 2013

Coimbra, 7 de Maio de 1974


Quanto mais me aventuro pelas veredas da nossa literatura e mais desabafos releio dos irmãos de ofício, mais se arreiga no meu espírito a convicção de que em Portugal todos os verdadeiros escritores escrevem em tensão negativa. Com raiva, com sarcasmo, com ironia ou com amargura. É ver as páginas azedas espalhadas pelo melhor da obra de cada um. A paz de uma grafia sem crispação não é connosco. Tudo o impossibilita, desde o meio hostil em que vivemos, incapaz de compreender o acto criador, às próprias relações inter pares, sempre difíceis e tormentosas. De aí que façamos da caneta um estadulho, um cautério, uma seta ervada ou um cilício. Um instrumento, ao mesmo tempo, de agressividade e de maceração.

Sem comentários:

Enviar um comentário