26 – Junho (terça). Vivi sempre exilado
no meu país. Exílio político, entalado entre o fascismo de Salazar e o comunismo
do Cunhal. Exílio cultural, porque a cultura portuguesa, exceptuando a
literatura, em pouco me entusiasmou. Exílio de companheirismo, porque os
companheiros tinham o seu redil político onde eu não entrava até porque a saúde
me mandava estai quieto e não andar em borgas, que é onde se é realmente compincha.
Do que no meu país não fui exilado foi do meu país. Ou seja, da minha língua,
do meu ar, da minha paisagem, da minha alma, do meu ser. Respiro o meu país
decerto no que é o seu espírito e eu não conheço por ser o meu. Mas ignoro-o ou
conheço-o menos ou afectou-me menos no que é matéria de aprendizagem, de reflexão,
de conteúdo decerto para preencher esse espírito. Eu sinto como português mas o
meu pensar emigrou. De todas as formas de exílio, porem, a que sempre mais me
tem doído é o meu destino de patinho feio, de ovelha negra em rebanho branco,
de olhar disponível em olhos com testeiras. O que mais me doeu sempre foi não
me reconhecerem, de me expulsarem de (Interrompido).
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