quarta-feira, 5 de junho de 2013

5 – Junho (terça). [1990]

Saíu enfim na semana passada o Em Nome da Terra. E ontem e hoje tenho passado o meu tempo a autografar livros. Trabalho irritante porque me obriga a inventar frasezinhas especiais para cada destinatário. Porque cada um quer ali a sua oferenda em tipo único e irrepetível, consagrado especialmente à sua pessoa. E a mim também me chatearia bater a chapa em cada exemplar. Uma estopada. Por sobre tudo, porém, e ao contrário de todos os outros meus livros, este não me desassossegou a alma. Um pouco nas tintas, é o caso. Mas no fundo talvez a minha inconsciência me faça admitir que o livro é bom. Há todavia um pormenor desagradável com que não contava e ê a rejeição do que no romance há de desagradável. Sobretudo pelos leitores que me rondam a idade. Eu sempre tenho dito que o livro não é aconselhável a maiores de 60 anos. Mas digo isto para fazer piada. E não é que é mesmo verdade? Ainda há pouco a Mariberta telefonou lá do Porto para me dizer que o livro lhe dá uma terrível depressão. E eu disse-lhe:
– Deite-o fora.
É que não sei mesmo que outra coisa aconselhar. Já os jovens aguentam melhor. A verdade é que também para eles não há morte. Em todo o caso o Lúcio – não o disse já? – declarou-me que após a leitura do livro ficou a amar mais a vida. Aí está.

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