domingo, 9 de junho de 2013

Lourenço Marques, 9 de Junho de 1973

Lourenço Marques, 9 de Junho de 1973 – Arte negra. Primeiro, a granel, numa exposição colectiva; depois, singularizada, no estúdio de um reputado pintor. E sempre a mesma impressão desagradável de pisar terreno movediço. Esculturas e pinturas raivosas, crispadas, de dentes arreganhados, gestos agressivos, esgares de pesadelo. Onde procurava ver apenas fantasiosas manifestações oníricas, acabava por descortinar ameaçadoras revelações agressivas de não sei que traumatizada memória ancestral. Um ódio convulsivo, impaciente, indomável, a irromper das profundidades em cores, traços e volumes, o subconsciente activo a preparar o consciente passivo para o grande combate. Para a violência de uma revolução que terá, como todas as revoluções, a dimensão possível. Condicionada por mil factores, apesar de explodir em pleno século vinte, será tal qual a pressagiam os videntes do escopro e do pincel: um puro massacre tribal entre negros tribais e brancos tribais.

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