Lourenço Marques, 9 de
Junho de 1973 – Arte negra. Primeiro, a granel, numa exposição colectiva;
depois, singularizada, no estúdio de um reputado pintor. E sempre a mesma impressão
desagradável de pisar terreno movediço. Esculturas e pinturas raivosas,
crispadas, de dentes arreganhados, gestos agressivos, esgares de pesadelo. Onde
procurava ver apenas fantasiosas manifestações oníricas, acabava por
descortinar ameaçadoras revelações agressivas de não sei que traumatizada
memória ancestral. Um ódio convulsivo, impaciente, indomável, a irromper das
profundidades em cores, traços e volumes, o subconsciente activo a preparar o
consciente passivo para o grande combate. Para a violência de uma revolução que
terá, como todas as revoluções, a dimensão possível. Condicionada por mil
factores, apesar de explodir em pleno século vinte, será tal qual a pressagiam
os videntes do escopro e do pincel: um puro massacre tribal entre negros
tribais e brancos tribais.
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