Em países como Portugal, onde o fosso entre ricos e
pobres é cada vez maior, as estatísticas trazem sempre boas notícias. Assim, os
portugueses ficaram ontem a saber pelo INE
que vivem num país onde o rendimento médio líquido (líquido!) das famílias é de
1984 euros por mês.
Muitos hão-de estar a matutar sobre quem lhes ficou
com o que falta aos 1984 euros líquidos mensais que a sua família terá recebido
entre Março de 2010 e Março de 2011, e esse é o lado bom das estatísticas: dão
que pensar. É conhecido o dito segundo o qual, se alguém comeu dois ovos e
outrem não comeu nenhum, para as estatísticas comeram ambos um. Infelizmente, a
maioria dos portugueses apenas tem hoje para comer os ovos estatísticos de que
se alimentam os discursos políticos, que passam quase sempre ao largo do facto
de, por cada família a auferir, por exemplo, 19 840 euros mensais (já nem falo
das que auferem 198 400), ter que haver dez outras a sobreviver com 198,4.
Os números do INE dão também uma ideia do que é a
evasão fiscal entre nós: em 2009, enquanto os trabalhadores por conta de outrem
ganharam em média 11 378 euros anuais, os profissionais liberais ganharam...
1593 (isto é, 132 miseráveis euros por mês). O meu coração sangra de
comiseração: como é que os médicos, advogados, economistas, engenheiros, etc.,
que trabalham por conta própria conseguem pagar as rendas dos consultórios?
JN, 20/06/2012 – M. A. Pina
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