quinta-feira, 20 de junho de 2013

20 de Junho de 1978

Não falta entre nós quem nos fale de «estórias», como se acabassem de descobrir a ideia, que aliás colheram dos escritores brasileiros. Mas estes herdaram-na da inapagável tradição lusitana do «Conte-nos urna estória!», pois assim pronunciámos sempre a palavra. Trata-se portanto de uma mera retribuição que eles nos fizeram.
A pintura, como aliás as outras artes, representa tudo como visto da horizontal, segundo a linha de terra, ou seja, ao nível a que se encontra o artista e o seu objecto, mesmo na pura abstracção. E nunca de cima, do alto, da vertical, do céu, do tecto ou do telhado, como o Diabo Coxo: tal como no-lo faz sentir a Vieira da Silva com as suas maravilhosas paisagens-mapas, aerodinâmicas, de cidades míticas, até nisso grande inovadora. Como seriam as feiras e quermesses do velho Bruegel, vistas do balão ou do cimo das árvores? As artes ainda não se acomodaram a um ponto de vista «lá-de-cima». E, no entanto, a aviação tem-nos dado tantas novidades visuais como o ultramicroscópio para a realidade íntima das coisas.

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