Londres, 9 de Junho de 1977 – Também os museus
britânicos estão cheios do génio alheio. A arte plástica inglesa é doméstica,
de adequação, retrata apenas amorosamente as aparências do humano ou da
paisagem. O que na generalidade do continente é um desafio dramático à capacidade
criadora, nestas ilhas não pretende ir além de uma sã conformidade dos sentidos
com o espectáculo familiar da realidade. Os cenários da vida quotidiana e os
actores que neles representam como que se prolongam na tela ou na pedra, vivos
mas sem transfiguração. Arte aplicada, honesta, empírica, funcional, que remete
a imaginação, o delírio, o fantástico e os pesadelos para o génio da
literatura. O que realmente aqui surpreende é o que foi carreado de fora,
espoliado aos quatro cantos do planeta. Templos inteiros, pórticos ciclópicos,
estátuas gigantescas, túmulos descomunais, trazidos da Grécia, da Assíria, do Egipto, da Itália. Uma rapina
organizada, que acaba por honrar o ladrão e a arte roubada, pelo esforço
desmedido de a descobrir, de a desenterrar, de a transportar, de a estudar, de
a preservar. De a trazer morta das terras onde foi criada, e de a mostrar viva
numa terra incapaz de a criar.
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