domingo, 9 de junho de 2013

Londres, 9 de junho de 1977

Londres, 9 de Junho de 1977 – Também os museus britânicos estão cheios do génio alheio. A arte plástica inglesa é doméstica, de adequação, retrata apenas amorosamente as aparências do humano ou da paisagem. O que na generalidade do continente é um desafio dramático à capacidade criadora, nestas ilhas não pretende ir além de uma sã conformidade dos sentidos com o espectáculo familiar da realidade. Os cenários da vida quotidiana e os actores que neles representam como que se prolongam na tela ou na pedra, vivos mas sem transfiguração. Arte aplicada, honesta, empírica, funcional, que remete a imaginação, o delírio, o fantástico e os pesadelos para o génio da literatura. O que realmente aqui surpreende é o que foi carreado de fora, espoliado aos quatro cantos do planeta. Templos inteiros, pórticos ciclópicos, estátuas gigantescas, túmulos descomunais, trazidos da Grécia, da Assíria, do Egipto, da Itália. Uma rapina organizada, que acaba por honrar o ladrão e a arte roubada, pelo esforço desmedido de a descobrir, de a desenterrar, de a transportar, de a estudar, de a preservar. De a trazer morta das terras onde foi criada, e de a mostrar viva numa terra incapaz de a criar.

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