Aproxima-te um
pouco de nós, e vê.
O país perdeu a
inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as
consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por
única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há
instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma
solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens
públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se
progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os
serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas
ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta
indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O
tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das
secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce.
As quebras [1]
sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos
operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é
considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
Neste salve-se quem puder a burguesia
proprietária de casas explora o aluguel. A agiotagem explora o juro. A
ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. O número das escolas só por
si é dramático. O professor é um empregado de eleições. A população dos campos,
vivendo em casebres ignóbeis, sustentando-se de sardinha e de vinho,
trabalhando para o imposto por meio de uma agricultura decadente, puxa uma vida
miserável, sacudida pela penhora; ignorante, entorpecida, de toda a vitalidade
humana conserva unicamente um egoísmo feroz e uma devoção automática. No
entanto a intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada.
Apenas a devoção insciente perturba o silêncio da opinião com padre-nossos maquinais.
Sem comentários:
Enviar um comentário