Bruxelas, 4 de Junho de 1977
– As voltas que a vida dá, e como acaba por atar as pontas para se fechar num
círculo simbólico! Quando há sessenta anos, como emigrante, desembarquei no Rio
de Janeiro do porão de um navio, esperava-me no cais um sujeito desconhecido
com a minha fotografia na mão, a fim de me identificar; há pouco, ao descer do
avião, aconteceu coisa parecida: uma senhora, igualmente estranha, erguia à
porta de saída um grande cartão onde li, entre comovido e divertido, o meu
nome. O rapazinho de outrora ia comer o pão que o diabo amassou; o velho de
agora vinha receber um prémio internacional. O prémio de ser fiel às origens, e
de ter sempre, como os antepassados, mourejado na mesma humildade e tenacidade,
de enxada na mão ou de caneta na mão.
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