30 – Junho (sábado). Hoje é dia de ler
muito papel de jornal. Que desorientação em todo o Mundo. Há muito que eu já o
sabia. Mas havia quem estivesse orientado e isso me desarrumava e sobretudo,
por reflexo, me dava paradoxalmente alguma calma. Eram tipos iluminados que
faziam peso do seu lado para equilibrar. Mas agora desse lado também não há
nada. É aflitivo pensar o vazio. Alguém disse em França do Para Sempre que era «à l’évidence un des grands textes de la
nostalgie européenne d’aujourd’hui». Li-o na contracapa da tradução de Manhã Submersa («Matin Perdu»). E essa
melancolia cai sobre mim e arrasa-me de desamparo. Estou triste, é isso. É uma
tristeza que vai do que me é difícil na vida e cobre tudo o mais da sua sombra.
Há os que fogem desvairados para o abrigo de uma religião. Há os que se riem
infantilmente, ingenuamente, desengraçadamente. Que espectáculo de ruínas.
Então volto-me para o irreal do que foi e é só a realidade do meu imaginar.
Pessoas que amei. Horas da minha impossível quietude. Não ler. Não pensar. Que
é que posso ler ou pensar? Horas da nulidade de mim. Suave resignação no aceno
longínquo do que morreu. Triste. Quanto. Mundo da desagregação, da arte em
farrapos, da política em ruínas, da religião sem fé como lareira sem fogo, da
moral incompreensível e amoralidade normalizada, do fútil e efémero, do
presente rápido sem futuro nem passado, dos filhos sem pais que não tiveram
tempo para isso, do lixo, do estrume, da grande manta de caca a envolver e preencher
tudo quanto foi um dia o lugar de se ser homem em arte, em cultura, em tudo o
que foi razão de o ser. Estou triste e cheio de pressa de dormir. De esquecer.
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