O poder da palavra! Morreu a Maria da Purificação, que até no nome era
eloquente, e o povo, sem outra santa mulher que lhe soubesse perpetuar o
apostolado, ficou, pela primeira vez na vida, privado de purgar a alma
atribulada na Via Sacra
tradicional.
– Sete foram as quedas que deu o nosso
amorosíssimo Jesus, desde o horto até casa de Annaz…
– Louvado seja tão bom Senhor!
– Os açoutes que lhe deram passaram de cinco
mil; e três vezes chegou ao trânsito da morte, quando o açoutaram…
– Louvado seja tão bom Senhor!
As cruzes das
várias estações lá estão erguidas no comprido caminho do Calvário. Mas este ano
ninguém se vai ajoelhar contrito diante delas. Falta a voz que chamava as
consciências à contemplação do sofrimento exemplar de Cristo. E o dia de Páscoa que se aproxima,
como não teve a vivência explicitada da Paixão divina, parece já desesperançado
nos olhos de todos. Sem verbo não há catarse. E sem catarse não há ressurreição.
Miguel Torga
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