A
ironia dos actos praticados! Estúpidos quase todos, e são eles que nos dão a
inteligência da vida. Uns, fruto do acaso, outros deliberadamente consumados,
numa visão retrospectiva dir-se-ia que se articulam num plano de coerência
intrínseca tão alheio à vítima e tão inexorável que o sentido das opções mal se
distingue do império das circunstâncias. Das circunstâncias que os precedem e
lhes sucedem, de tal forma encadeadas, que a personalidade, perplexa, se sente
abolida. Mas onde teria corpo o drama de ser homem, sem a trama dos actos? Só
diante da sua irreversibilidade no perfil biográfico é que se vê até que ponto
eles foram igualmente absurdos e necessários para que acontecesse, no tempo,
esta aventura inédita de nascer com data, ter um nome próprio, e morrer.
Miguel Torga
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