A sedução do poder! O deleite com que o saboreiam muitos dos que ainda há
pouco juravam abomina-lo! Sei que poucos escapam ao seu fascínio, e de que
disfarces é capaz. No próprio acto criador se acoita. Mas referia-me ao poder
concretamente exercido, a nível de mando. O comportamento desses estadistas de
pronto a vestir! O que eles dizem e o que eles fazem! Parecem metidos numa
outra pele. Novos penteados, novas gravatas, novos gestos, nova gravidade. São
agora mais pernéficos, mais solenes. Adquiriram, sobretudo, uma versatilidade
mental e moral inesperada. Como os oráculos, tudo o que lhes sai da boca tem
dois sentidos. Falam sempre a cobrir a retirada. Às vezes apetece pôr-lhes um
espelho diante dos olhos. Mas talvez fosse inútil. Cegos de felicidade, como
poderiam compreender que são uns pobres bonifrates, ao mesmo tempo de boa fé e
de má consciência?
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