segunda-feira, 29 de abril de 2013

Coimbra, 29 de Abril de 1975


Meu dito, meu feito. Depois do amuo, a reacção raivosa dos vencidos. Vencidos menos pelo significado numérico dos votos do que pela maneira ressentida como vivem a sua condição minoritária. O que devia ser um íntimo contentamento colectivo – cada português a felicitar-se de pertencer a um agregado humano que depois de um cativeiro de meio século, acrescido de um inesperado surto de medo que parecia não ter fim, foi capaz de uma atitude cívica exemplar –, é motivo de desespero para todos os derrotados. Não sabemos perder nem ganhar. Se perdemos, odiamos o vencedor, e fazemos tudo para lhe tirar da cabeça a coroa de louros; se ganhamos, ninguém nos atura, porque falseamos a dimensão da vitória na expressão empolada do triunfalismo.
Miguel Torga

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