Meu dito, meu feito. Depois do amuo, a reacção raivosa dos vencidos.
Vencidos menos pelo significado numérico dos votos do que pela maneira
ressentida como vivem a sua condição minoritária. O que devia ser um íntimo
contentamento colectivo – cada português a felicitar-se de pertencer a um
agregado humano que depois de um cativeiro de meio século, acrescido de um
inesperado surto de medo que parecia não ter fim, foi capaz de uma atitude
cívica exemplar –, é motivo de desespero para todos os derrotados. Não sabemos
perder nem ganhar. Se perdemos, odiamos o vencedor, e fazemos tudo para lhe
tirar da cabeça a coroa de louros; se ganhamos, ninguém nos atura, porque
falseamos a dimensão da vitória na expressão empolada do triunfalismo.
Miguel Torga
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