quarta-feira, 3 de abril de 2013

3 de Abril [1966]

Ocasiões há em que enjoado de literatura, de literatos e das pequeninas intrigas do mundo exíguo em que todos nos reduzimos ao tamanho dos comentários do Café, penso: «Não! Vou arranjar amigos menos preocupados com a posteridade… Contemplar o planeta com olhos diferentes nas órbitas… Medir os sentimentos com outra régua…»
Mas quando tento isso, que acontece? Por mais que me esforce, não consigo furtar-me ao velho vício de espiar os candidatos ao renovo da minha intimidade – observador-inimigo  registar como falam, como franzem o nariz, como bocejam, como suspiram…
Continuo, em resumo, a reagir como literato – impossibilitado de viver como toda a gente e de cortar as raízes de quase sessenta anos que me ligam aos livros e ao papel rabiscado.
E então, melancólico e contente, regresso ao Café.
JGF

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