sábado, 20 de abril de 2013

20 – Abril (sexta). [1990]


       Reli Em Nome da Terra em segundas provas de um jacto (aliás, dois) aqui em Fontanelas. E pude aperceber-me melhor do que vale o livro. E apesar de um ou outro passo mais frouxo, creio que é bom. Pude mesmo entender razoavelmente o que eu nele «quis dizer». E o que quis dizer foi talvez que a significação de todo o contingente, e vão, e absurdo se resolve no «infinito». E que há a sacralização do corpo, desde a epígrafe tirada de S. Mateus. E que há na mulher amada uma eternidade que vai além da corrupção e é o absoluto do seu ser. Achei também que as várias componentes do livro se ajustam num todo. Sobretudo creio ter conseguido superar a lástima da degradação de um corpo numa significação metafísica e equilibrar o espectáculo repulsivo dessa degradação com a escrita discreta e mesmo algum humor que espero não tenha pisado o risco. Gostei do primeiro e último capítulos, da descrição da deusa Flora, da conversa com Cristo, do concerto de oboé, do encontro do narrador com uma criança no jardim, da figuração amorosa de Mónica, do almoço na esplanada com a música do cego, do banho no mar, de – não me lembro mais e não tenho pachorra de ir ver. De todo o modo o ajustamento de todos os elementos do livro nem sempre está bem esclarecido. De todo o modo creio que não é um livro falhado, e que a generalidade dos leitores vai gostar. Precisava bem disso para ser confirmado na minha esperança e fechar a minha aventura literária com chave ao menos «de prata». Estou saturado da literatura – precisava. Porque me seria extremamente penoso voltar a «escrever».
VF 

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