quinta-feira, 18 de abril de 2013

18 de Abril de 1978

Um grudo folclórico da Arménia deu em certa cidade espectáculos sensacionais de canto e dança. Alguém que os gabava a um amigo ouviu esta resposta: «Sim, mas achei-os um tanto armeniosos de mais!»
Todos falam agora de «liberdade», como se a tivessem inventado, restabelecido ou merecido. Mas se eu não afivelar a máscara de um partido nem agitar o pendão de uma seita, serei sem demora ignorado, suprimido ou oprimido pela mais vil das armas políticas (ou fascistas!), que é o boicote ou o silêncio; pela crítica caluniosa ou degradante; ou, pior que tudo isso, pela impossibilidade de publicar. Não terei jornal, nem editor, nem lugar ao sol. Cada grupo, facção ou quadrilha que se apodera dos postos de comando nas instituições públicas ou privadas onde se dispõe das vidas, carreiras e reputações dos cidadãos, exerce a seu modo, e na medida dos seus rancores, as funções que ontem cabiam ao ditador, ao censor e aos seus agentes policiais, impondo gostos, ideias, modas e ofícios.
Por isso eu me refugiei neste jornal da esquerda pluralista, onde encontro até a liberdade de escrever por vezes aquilo em que com ele não estou de acordo – porque a ninguém, nem a mim mesmo, reconheço a virtude de possuir toda a verdade. Deixei assim aos «neutros» e/ou «indiferentes», que ontem bajulavam ou serviam obedientemente os bonzos da tirania, o privilégio de passar a bajular ou servir os semideuses e mandarins do presente: servindo-se a si próprios, no processo, pela sua aptidão a serem amigos-de-toda-a-gente – o que os não obriga a serem amigos de ninguém.
JRM 

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