• Todos falam agora de
«liberdade», como se a tivessem inventado, restabelecido ou merecido. Mas se eu
não afivelar a máscara de um partido nem agitar o pendão de uma seita, serei
sem demora ignorado, suprimido ou oprimido pela mais vil das armas políticas
(ou fascistas!), que é o boicote ou o silêncio; pela crítica caluniosa ou
degradante; ou, pior que tudo isso, pela impossibilidade de publicar. Não terei
jornal, nem editor, nem lugar ao sol. Cada grupo, facção ou quadrilha que se
apodera dos postos de comando nas instituições públicas ou privadas onde se dispõe
das vidas, carreiras e reputações dos cidadãos, exerce a seu modo, e na medida
dos seus rancores, as funções que ontem cabiam ao ditador, ao censor e aos seus
agentes policiais, impondo gostos, ideias, modas e ofícios.
Por isso
eu me refugiei neste jornal da esquerda pluralista, onde encontro até a
liberdade de escrever por vezes aquilo em que com ele não estou de acordo –
porque a ninguém, nem a mim mesmo, reconheço a virtude de possuir toda a verdade.
Deixei assim aos «neutros» e/ou «indiferentes», que ontem bajulavam ou serviam
obedientemente os bonzos da tirania, o privilégio de passar a bajular ou servir
os semideuses e mandarins do presente: servindo-se a si próprios, no processo,
pela sua aptidão a serem amigos-de-toda-a-gente – o que os não obriga a serem
amigos de ninguém.
JRM
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