Com a
melancolia de quem gastou tanta vida com sombras, pus-me hoje a recordar as
pessoas que, no escoar dos anos, têm passado pelo escritório onde trabalho no Tivoli.
Lembrei-me sobretudo de duas. Primeiro, do António Botto que lá
aparecia às vezes perto das onze horas da noite a desafiar-me para uma volta de
conversa na Avenida. Aceitava, claro, e durante duas horas ouvia histórias de
perfídia doce ao grande poeta
que, como por acaso (tal qual nos versos), empregava expressões em que as
palavras adquiriam significados imprevistos.
Assim numa
dessas noites de vadiagem, referindo-se a certo realizador francês,
explicou-me:
– Tem um
admirável estilo pederasta!
O outro
visitante era o Manuel
Ribeiro de Pavia.
Estou a
ouvi-lo furioso contra um amigo comum:
– Não é
Poeta. É um mentiroso!
Sem comentários:
Enviar um comentário