sábado, 6 de abril de 2013

6 de Abril de 1978

Esta de que «a mordedura do cão se cura com o pêlo do mesmo cão» sempre me deu que pensar: porquê o pêlo? e como, e onde? Talvez aplicado à mordedura? Só tarde me ocorreu que «pêlo» está aqui por «coiro»: o remédio é esfolá-lo, isto é, tirar-lhe a vida. O meu espanto! Bom juízo o do povo, quando sabe.
Um destes intriguistas que abundam no meio literário veio confiar-lhe em segredo que o escritor X. lhe dissera, indignado: «Fulano?... Não leio! Nunca o pude gramar!» Ao que o visado contrapôs: «Óptimo! Não tenho então remorsos de nunca ter lido um livro dele!»
O grande «segredo» ou fórmula de Hollywood foi, desde sempre, fabricar e vender felicidade em massa ilusória, claro está. A cada qual a sua dose, como nos velhos romances de assinatura. Torná-la acessível às multidões, como o pronto-a-vestir a baixo preço, outra invenção dos bons judeus do Lower East-Side de Nova Iorque. Daí o seu triunfo universal, que tantos engulhos tem dado a críticos e outros intelectuais que dele viveram. Não há celebridade que, tendo ganho regiamente a vida a serviço dos estúdios de Hollywood, não tenha escrito um ou dois livros contra aquele negócio de fancaria. Mas não se disse sempre que o mundo vive de ilusão?... O caso é que esse conceito da felicidade pela imagem se esgotou, ingénuo ou mercenário como era, e veio a Erótica tomar-lhe o lugar, em muito mais baixa escala e a vil preço. Que ganhámos nós com isso”
JRM 

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