quarta-feira, 3 de abril de 2013

3 – Abril (terça). [1990]

       Leio sempre vários livros ao mesmo tempo. Às vezes estou mergulhado a fundo num, quando aparece outro mais urgente a meter o cotovelo, depois outro que se mete à frente desse e assim acontece que um dos primeiros fica esquecido no montículo que se vai formando. Foi o que me aconteceu com um livro fortemente incomodativo sobre O Cérebro Humano, porque depois dele veio o número da revista dedicada a Heidegger, um outro sobre o Eça, romances, livros de poesia. Mas o cérebro humano. Li ainda pouco. Mas que perturbante. Então não é que o mínimo agir humano até aos seus sentimentos tem um lugarzinho marcado na massa cerebral? Houve um tipo que no tempo da omnipotente ciência e laicismo veio cheio de farófia dizer-nos que nas múltiplas dissecações que fizera nunca encontrara a alma. Isto é ridículo e extremamente sério. Porque a alma não existe, mas existe a vida no estarem vivos os centros do nosso ser. E sobretudo existe a consciência que tenho de mim próprio, o sentir-me eu, e que estando naquilo que sou, não está senão no sentir-me existir. A gente pensa no Condillac, que pensava o homem como uma máquina (Interrompido).
VF 

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