– O senhor não é fulano?
– Sou – disse-lhe eu, cheio de vedetismo.
– Eu nunca li nenhum livro seu, mas conheço-o dos jornais.
E sem pensar, disse-lhe com humildade e sorriso de charme:
– Então leia.
Mas o que era em mim um pedido saiu-me em tom categórico de
uma ordem. E o homem diz-me qualquer coisa que não entendi e retomou a
embalagem que trazia. E eu fiquei fulo comigo por uma vez mais não ser capaz de
obedecer às recomendações que me dou.
Posto o que vou descansar no sofá do cansaço e da chatice da
desobediência. .
*
Fui ao médico Valentim de Carvalho. Vim do médico Valentim
de Carvalho. No intervalo não aconteceu nada de grave. E nesse caso, aguardo a
próxima etapa. Assim me tem decorrido toda a vida – ir avançando sempre por
etapas. Há os felizes que só têm uma e com muitos anos de intervalo.
*
O Lúcio está a ler em dactilografado o meu Em Nome da Terra.
Diz que está a gostar muito. Mas o que mais me agradou foi dizer-me que durante
a leitura vai ficando com mais amor à vida.
*
Os angolanos das várias ideologias (no fundo a da UNITA
e a comunista do Governo, a do MPLA)
estão reunidos em congresso com vistas à preparação de um entendimento para a
paz. O resultado do que ao ouvido de ambos foi soprado pela América e União Soviética
(quando voltará ela, a propósito, a chamar-se de novo Rússia?)
*
E de notícias quentes é a acelerada reunião das duas Alemanhas,
enquanto a União
Europeia é um sinal de rápida convergência. Como as guerras em grande estão
fora de uso, o espectro de uma Alemanha
reunificada não prevê tiros de canhão mas de marcos pesados. Menos sangue, mas
mais quê? Aliás, a Europa unida faz-me muita confusão entre a necessidade de se
ratificar a redução fatal do espaço europeu e a necessidade de cada um ser quem
é. A ver se me ponho a reflectir sobre o caso.
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