E inútil disfarçar. É mesmo um pouco hipócrita. Porque é acabrunhante
levar uma vida inteira a realizar uma obra e ficar de cara alegre quando lhe
dizem, expressa ou omissamente, que é uma coisa menor. Sobretudo é difícil apanhar
com isso pela cara e não entender porquê. Ou não conseguir entender porque é
que nesse porquê há uma razão a funcionar. Ou porque é que se não consegue ver,
no que os parceiros realizaram, a razão invertida da nossa sem-razão. Que coisa
estranha o nosso equilíbrio interior, que é onde essas coisas se esclarecem.
Porque ele altera-se com o tempo e sobretudo é praticamente opaco ao que não
entra na sua óptica. Podem dizer-nos que tal ou tal valor é de entrar nela. Nós
aceitamos, na superfície desse equilíbrio, que seja assim. Mas não no seu
interior. Porque aí não temos possibilidade de interferir. Somos assim e só o tempo é possível fazer que
sejamos assado. No desencontro portanto
entre o que valorizo e desvalorizam os outros, só o tempo um dia – e decerto
provisoriamente – poderá dizer quem tinha razão. Mas se a razão está do meu
lado, é o equilíbrio interior dos outros que terá de modificar-se. E se está do
seu lado, a minha condenação não terá apelo. É isto assim um problema sem
solução. Nada pois a fazer. Ou há só que esperar as contas definitivas a saldar
no infinito quando decerto todos teremos razão, que é quando as não teremos
nenhum.
*
Troveja forte e feio. E chove em tromba de água. E a Regina
saiu mais a sua constipação a fazer compras.
Sem comentários:
Enviar um comentário