sexta-feira, 5 de abril de 2013

Coimbra, 5 de Abril de 1975


Fazem-se eco os jornais das palavras de um intelectual francês que veio espairecer o seu tédio vanguardista e bem pensante por estas buliçosas paragens. Parece que vai daqui consolado e nos deixou consolados também. Pobre português! Quer queira, quer não, está sempre de cócoras diante de qualquer estrangeiro. O mais pundonoroso, curva-se reverentemente perante o estatuto de superioridade que de longa data outorgamos aos de fora. Todos nós nos pomos nos bicos dos pés para que o mundo nos veja. Escrevemos para os outros, conspiramos para os outros, fazemos revoluções para os outros. E os outros, naturalmente, procedem em conformidade, dignando-se olhar-nos com a magnanimidade de um soberano que desce à rua e aperta a mão do manifestante.
Miguel Torga

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