Fazem-se eco os jornais das palavras de um intelectual francês que veio
espairecer o seu tédio vanguardista e bem pensante por estas buliçosas
paragens. Parece que vai daqui consolado e nos deixou consolados também. Pobre
português! Quer queira, quer não, está sempre de cócoras diante de qualquer
estrangeiro. O mais pundonoroso, curva-se reverentemente perante o estatuto de
superioridade que de longa data outorgamos aos de fora. Todos nós nos pomos nos
bicos dos pés para que o mundo nos veja. Escrevemos para os outros, conspiramos
para os outros, fazemos revoluções para os outros. E os outros, naturalmente,
procedem em conformidade, dignando-se olhar-nos com a magnanimidade de um
soberano que desce à rua e aperta a mão do manifestante.
Miguel Torga
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