Quatro dias de férias que me pareceram fora da realidade nacional, de tão
longe que fiquei desta alucinação crispada que continua a ser o nosso
quotidiano citadino. Bendita paz transmontana onde as pessoas se mantêm no seu
juízo perfeito. Mas regressei, e aqui estou de novo mergulhado na leitura de
entrevistas, crónicas, discursos e o mais de que se nutre o sadismo das
gazetas. O país alfabeto ainda não deu conta que delira. Que uma febre surda o
faz desvairar conforme o capricho da hora. Generalizou-se de tal maneira a
tolice, que até dos mais sisudos e sensatos tememos um súbito destempero.
Nunca, através da História, as circunstâncias tinham propiciado uma tão extensa
e intensa manifestação das nossas qualidades negativas. Os defeitos vinham à
tona, mas salteadamente, agora uns, logo outros, e neste e naquele. Desta
feita, porém, foi uma explosão maciça que não poupou ninguém. Contagiados do
mesmo mal – o da irreflexão e do descomando –, estamos todos convulsivamente a
tremer não sei que maleita social e a dizer coisas sem tino.
Miguel Torga
Sem comentários:
Enviar um comentário