sexta-feira, 22 de abril de 2011

“Tablóides” – 22 de Abril de 1976

• «O meu jovem amigo não acha», dizia-me António Sérgio, «que as crianças portuguesas vivem demasiado agarradas aos adultos e que devíamos adoptar a nursery doméstica dos Ingleses, que é o mundo próprio delas!» (As das classes superiores, bem entendido.) Gaguejei uma qualquer resposta. Sabemos hoje que as nurses eram muitas vezes tiranas sadistas, e até viciosas (como os butlers), que muito contribuíram para corromper, mesmo sexualmente, os seus pupilos de boa farmíia. (Notas antigas.)
• Mlle. Ramaïde, autora belga de obras de pedagogia, dirigia a escola-modelo, tanto quanto possível «activa», do meu mestre Dr. Decroly, situada numa cidade-jardim de Bruxelas, e reservada aos filhos de gente abastada. Frequentei-a algum tempo como observador. Um dia vi Mlle. Hamaïde aplicar um par de galhetas a um menino respingão. Diante da heresia e atentado aos sagrados princípios da pedagogia teórica, abri os olhos de espanto. Tornou-me ela, sorrindo: «Et surtout n'allez pas le dire à Monsieur Decroly!» (que e o não fosse contar ao Dr. Decroly). (Notas antigas.)
José Rodrigues Miguéis (9.12.1901 – 27. 10.1980)

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