domingo, 31 de outubro de 2010

Os Rios de Lobo Antunes


É lançado hoje, no Museu da Água, às 19, o novo romance de António Lobo Antunes, Sôbolos Rios Que Vão (D. Quixote), de que publicamos esta 'leitura' por Maria Alzira Seixo, como se sabe grande especialista da sua obra, que dirigiu o Dicionário da mesma, bem como a equipa responsável (até ao romance anterior) pela sua edição ne varietur

Os magistrados ...

 ... e o direito de expressão livre.


Eis a opinião de Artur Costa no Supremo Tribunal de Justiça. 

Déjeuner du matin



Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec la petite cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a reposé la tasse
Sans me parler
Il a allumé
Une cigarette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis les cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur sa tête
Il a mis
Son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Et il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
Et moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
Et j'ai pleuré.

Extraído de "Paroles", Jacques Prévert
Autor a lembrar.

João Baptista Vasconcelos Miranda Magalhães

Em 6 de Dezembro de 2003, dei início ao blog Os Cordoeiros (já sem localização), no qual intervieram velhos colegas e amigos. 

Recordo-me, por exemplo, do Jbmagalhães, ainda actor da Margem Esquerda.

Aqui deixo uma especial lembrança dele.

sábado, 30 de outubro de 2010

Ter juízo.... (José Carlos de Vasconcelos)

Os juízes têm de estar acima de todas as suspeitas e não podem tomar posições que as alimentem e desprestigiem a justiça

1. Escrevo antes de ser conhecido o resultado final das conversações entre as delegações do Governo e do PSD, tendentes a chegar a uma plataforma de entendimento para viabilizar o Orçamento do Estado (OE). A minha convicção, porém, é que tal entendimento será conseguido: ninguém compreenderia que o não fosse, a nomeação de Eduardo Catroga para chefiar a delegação do PSD indiciou essa vontade, a parte que, pela sua intransigência, levasse ao chumbo do OE pagá-lo-ia bem caro.

Todos estarão de acordo, decerto até os que elaboraram a proposta do Governo, que se trata, em diversos sentidos, de um mau OE (que poderá, porventura, ficar menos mau com os contributos de todos os grupos parlamentares), mas o que tem de ser tem muita força. O que se torna indispensável, como já aqui sublinhei, é criar condições para acabar com esta e outras inevitabilidades, acabar com políticas de austeridade que só agravam os problemas de fundo, em vez de os resolver, e só aumentam as injustiças, em vez de as corrigir ou minorar.

E escrevo também antes de Cavaco Silva fazer o anúncio formal da sua desde há muito, desde sempre, mais do que previsível recandidatura a Belém. Assim, ignoro as razões que invocará para a justificar, mas é fácil adivinhá-las. Daqui para a frente tudo será mais claro e com certeza Cavaco terá o cuidado de não misturar a qualidade de Presidente com a condição de candidato: ele não é Jardim e a minha convicção é que fará um esforço sério nesse sentido. Não se pode esquecer, porém, a frequente fluidez de fronteiras e a dificuldade que amiúde existe em o conseguir. Acho que os seus adversários devem ter este facto na devida consideração e não multiplicarem críticas sem consistência - com as quais, aliás, não lucrarão nada e só distrairá do essencial.

2. Há vida, no entanto, para lá do Orçamento e das presidenciais. Por exemplo, na área da Justiça, que sendo essencial é das que se encontra em pior situação. Ora, já seria muito mau que o presidente da Associação dos Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) dissesse o que disse, numa boca de circunstância, uma frase no calor de um debate, uma resposta oral infeliz. Mas ainda foi pior: escreveu-o, num artigo no DN. Afirmando que os juízes estavam a ser "atingidos" pelo Governo, na proposta do OE - e que isso era "a fatura de terem incomodado os boys do PS, mais recentemente no caso Face Oculta". Afirmando também que o PS e o Governo aproveitaram "o défice para persistir no objetivo de partir a espinha aos juízes", e que se o PSD o ajudar a isso "ficará claro que o arco da governação não quer juízes mas meros servos".

Se bem entendi, o mais grave da proposta será cortar parte do subsídio da renda de casa a que os magistrados têm "direito" (como ninguém), além de lhes diminuir o vencimento (como a todos os titulares de cargos públicos)! Ora, toda a gente sabe que os magistrados são dos profissionais mais bem pagos e com mais regalias no País, com um nível de remunerações relativamente superior até ao da generalidade dos seus pares europeus - e por isso sem razões especiais para se queixarem, pelo contrário. Assim, o que, quanto a eles, consta da proposta de OE do Governo de toda a evidência não configura nenhuma discriminação ou perseguição, sobretudo atendendo ao que atrás se salientou. Acresce nem se acreditar que um magistrado possa fazer tais acusações sem ter provas e sem que sequer, face ao exposto, se possa falar de qualquer presunção, ou sequer indício, naquele sentido

3. Enfim, desgraça máxima, ao agir assim, ao fazer acusações de tamanha gravidade com tamanha ligeireza ou inconsciência, para não dizer outra coisa, o presidente da ASJP alimenta, se não legitima, a ideia ou suspeição dos que, ao invés, consideram que alguns magistrados tomam, no exercício das suas funções, posições políticas e podem penalizar ou beneficiar alguém (não no caso Face Oculta) em função delas ou do cargo que ocupam. Ora, os juízes têm de estar acima de todas as suspeitas e não podem tomar posições que as alimentem e desprestigiem a justiça. A ninguém mais do que aos juízes se exige moderação, bom senso - juízo...

8:08 Quinta feira, 28 de Out de 2010

A Fárria de Bento da Cruz



Bento da Cruz o maior escritor Barrosão lança, na comemoração dos 50 anos de vida literária, o romance «A Fárria» inspirado nas minas da Borralha, das quais aproveita para contar a história: a verdadeira história! Entre muitas passagens de bom humor a que o autor já nos habituou sobressaem casos verosímeis do Barroso de então! Loucos, os Fárristas, esbanjam a abundância... Apanham, roubam, traficam minério... são detidos, mas logo voltam... E na encosta, a lua cheia afaga desejos de uma Morgada de Gostofrio: feia e rica. Um pobre Silvério, apanhista e traficante, a comtempla, batendo com os calcanhares no cú á frente da P.I.D.E.
(escrito no local)

Cântico Negro de José Régio (interpretado por João Villaret)



«Vem por aqui» - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval' que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!

José Régio, “Poemas de Deus e do Diabo” (1925)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O vila condense Manuel Sousa Pereira

Encontrei hoje, de novo, no antigo e actual INCURSÕES, assinada pelo sempre amigo M. Simas Santos, a inauguração do bloco escultórico «Os Artistas» na cidade de Vila do Conde, da autoria do Escultor Manuel Sousa Pereira.
Aqui fica a lembrança de velhos amigos.

Direitos iguais ...

E que tal uma dieta?

Júlio, em Famalicão

É inaugurada hoje, na Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão, a Exposição «Por toda a parte - Júlio», na qual serão exibidas várias obras do pintor-poeta vilacondense Júlio Maria dos Reis Pereira. 

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Liberdade

Ai que prazer

Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa 
16-03-1935

terça-feira, 26 de outubro de 2010

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Um dia

Um dia, mortos, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais
O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados, irreais
E há-de voltar aos nossos membros lassos
A leve rapidez dos animais.
Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais, na voz do mar,
E em nós germinará a sua fala.
Sophia de Mello Breyner AndresenPoemas escolhidos – Sophia de Mello Breyner Andresen

Rest. Society in Top Hats (1908)

malevich
Kazimir MalevichRest. Society in Top Hats. 1908. The Russian Museum, St. Petersburg, Russia.

domingo, 24 de outubro de 2010

Renascer!...

Começo hoje a tentativa de uma nova conversa.
Isto não passa ainda de um começo.
Vamos lá ver...Mostrar todos