sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os Cordoeiros: Quarta-feira, Dezembro 31 [2003]

J'ACCUSE

Alfred Dreyfus, né en 1859, officier juif d'origine alsacienne, accusé d'espionnage, condamné en 1894 et déporté (affaire du bordereau); son procès sera annulé en 1899 et il sera recondamné puis grâcié la même année. Justice lui sera enfin rendue avec la cassation du jugement en 1906 et sa nomination au grade de Chevalier de la Légion d'honneur! Le célèbre article de Zola, de 1898, y fut pour beaucoup.
(Page «L'affaire Dreyfus»)
# posto por Rato da Costa @ 31.12.03

Bom Ano 2004! 

A todos os que, porventura, passam os olhos por este blog, um felicíssimo Novo Ano, em especial para o MSS, a quem se deseja o mais rápido restabelecimento possível, e para o JFFF, cuja beleza de olhar vai ser um sucesso!

Eugène Delacroix
Dante et Virgile aux enfers, dit La Barque de Dante
© Musée du Louvre

COSMOCÓPULA

(Natália Correia)

I

Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras

II

O corpo é praia e boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.

(Natália Correia- extraído de POESIA ERÓTICA)

Morgentoilette (mulher que estava diante de um espelho) - 1841


Descrição: Óleo sobre tela.
Localização: Coleção Particular
Autor: Eckersberg Christoffer

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Amigo

A nossa juventude é um veleiro
Que sulca pelo mar dos nossos sonhos
Em dias de alegria bem risonhos
No qual nós navegámos tempo inteiro

São tempos de boémia e muito amor
De sonhos, ilusões, companheirismo
Voos ao céu, caídas no abismo
Sempre com muita força e sem temor

Abrindo esse sótão encantado
Revendo o que fomos no passado
Voltamos nós ao sonho, à juventude

Mas o que mais queremos amiúde
Rumando a esse porto de abrigo
É encontrar de novo um velho amigo

Um grande abraço do amigo
Custódio

Os Cordoeiros: Terça-feira, Dezembro 30 [2003]

2. Os media.

1
Pierre Bourdieu[1] entende que o campo do jornalismo se estrutura em volta de dois «polos». Situam-se próximo do «pólo intelectual» os profissionais que privilegiam, como fonte de legitimação, o reconhecimento dos seus pares, efectuado com base no respeito pelos «valores» da deontologia profissional; colocam-se junto do «pólo comercial» aqueles que determinam o seu comportamento essencialmente pela «sanção, directa, da clientela, ou, Indirecta, da audiência».[2]
«A hierarquízação segundo o critério externo, que se traduz no êxito das vendas, corresponde quase ao inverso da hierarquização segundo o critério interno, que requer a seriedade jornalística»[3], sublinha Bourdieu. Este balanceamento entre duas formas de legitimação (cultural ou comercial; interna e externa) reflecte-se quer no conjunto do «campo jornalístico» quer dentro de cada orgâo de informação escrita, radiofónica ou televisiva.
O «polo cultural» organiza-se em função do auto controlo e da auto-avaliação dos jornalistas. O respeito pela deontologia, entendida como conjunto de deveres profissionais, representa o principal fundamento das «reputações de honorabilidade profissional».
O «polo comercial», pelo contrário, valoriza os critério relacionados com a audiência «na produção (' simples, ' curto, etc.) ou na avaliação dos produtos e dos produtores (' passa bem na televisão, “ vende bem”, etc.)».
A adesão ao «polo comercial» beneficia certo «tipo» de jornalistas, mais precisamente, na terminologia de Pierre Bourdieu, «os agentes dotados de predisposições profissionais que os inclinam a colocar toda a pratica jornalística sob o signo da velocidade (ou da precipitação) e da renovação constante»[4].
O mimetismo entre meios de comunicação social representa outro «efeito de campo» no jornalismo contemporâneo: «a concorrência estimula o exercício de uma vígílâncía permanente (que pode ir até à espionagem mútua) das actividades dos concorrentes, a fim de tirar partido das suas falhas, evitando incorrer nos mesmos erros, e de combater os seus êxitos, tentando utilizar os supostos instrumentos do respectivo sucesso...>.[5]


A tendência para regular o comportamento de cada órgão jornalístico pela orientação do concorrente conduz à repetição de temas, de tiques estilísticos ou de personalidades entrevistadas. 0 tropismo da imitação produz resultados contrários aos efeitos criativos geralmente atribuídos à luta pela conquista de públicos: «a concorrência, neste como noutros domínios, em vez de ser automaticamente geradora de originalidade e de diversidade, tende multas vezes a favorecer a uniformidade da oferta, como se pode facilmente verificar comparando os conteúdos dos grandes semanários ou das estações de rádio ou dos canais de televisão de grande audiência.
A deontologia profissional deveria ser instrumento de regulação das boas práticas jornalistas.
O Código deontológico dos Jornalistas portugueses constitui um esforço de intervenção quer nas áreas pragmáticas, quer na área técnica, procurando temas consensuais no interior de uma categoria profissional bem dividida.
A utilidade do Código deontológico será, nesse aspecto útil se se mostrar adequado aos constrangimentos dos objectivos empresariais impostos pela legislação (cf. v,g, o Estatuto dos Jornalistas, cf. Lei n.º 1/99, de 13.01, que aprova o Estatuto dos Jornalistas.).
Sem dúvida que os jornalistas têm liberdade de fazer as investigações que entenderem, porém os cidadãos da República têm de ver assegurado por uma questão de interesse público o seu direito à dignidade . cf. art. 1. ° e 2.° da CRP.


"Porque o sol e a chuva protegem só as ervas daninhas
e a geada, depois de queimar o trigo, não volta mais."


(Cesare Pavese, os dois últimos versos do poema "eles estiveram lá", inserido no livro "Trabalhar Cansa", edição bilingue, tradução de Carlos Leite, Cotovia,1997, pág.61).
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[1] Pierre Bourdieu, «L'emprise du journalisme», in Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n° 101\102, Março de 1994, pp. 3-9.
[2] Pierre Bourdieu, idem, pp. 4-5.
[3] Pierre Bourdieu, idem, p. 5, nota de rodapé n° 3
[4] Pierre Bourdieu, idem, ibidem
[5] Pierre Bourdieu, idem, ibidem


P.B.

Cântico negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

29 de Dezembro

Metropolitano de Lisboa
Em 1956, em Lisboa, foi inaugurado o Metro, uma rede subterrânea de transporte colectivo.

Gustav Holst - Os planetas Júpiter, Op.32

 

O som do trompete

O som do trompete em surdina

toca as palavras e as empurra

para a beira dos lábios.



Há ritmo no sangue acelerado,

música em uníssono.



O poema também é isto.



Silvia Chueire


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A Casa de Antero em Vila do Conde

Casa de Vila do Conde onde viveu Anthero de Quental
Aqui as praias são amplas e belas, e por elas me passeio ou estendo ao sol com a voluptuosidade que só conhecem os poetas e os lagartos adoradores da luz.
Anthero de Quental

A Câmara de Vila do Conde está a recuperar e abrirá ao público brevemente a Casa onde, durante dez anos, viveu o poeta. O imóvel, que tinha sido alvo de uma intervenção que o descaracterizou, teve de ser demolido e reconstruído para se aproximar, o mais possível, ao que era no tempo de Anthero.

A casa reconstruída
O espaço não é grande, mas estão a ser criados espaços de exposição, um pequeno auditório e uma biblioteca a instalar na antiga torre, um dos locais mais atractivos da casa.
O acesso a essa torre, é feita através de uma escada, em espiral, que termina numa janela com vista para o núcleo antigo da cidade. A espiral tem a forma de estante e poderá representar, por exemplo, "a subida para o conhecimento", uma vez que ali ficarão aquartelados mais de 5000 livros. Existe a vontade de reunir, neste local, tudo o que diga respeito a Anthero e que se encontra disperso.
Dentro da casa, há um outro espaço que merece também ser realçado: o jardim. Antero de Quental conta, numa carta escrita a um amigo, que pretende libertar aquela zona da função de horta e transformá-la, colocando ali duas laranjeiras, um pessegueiro, plumas, um morangueiro e uma ramada. O jardim está a ser ordenado tal e qual esta descrição.

A casa situa-se no Largo com o nome do poeta (antiga Praça Velha), próximo da Igreja Matriz.
Fica prometida nova visita para quando a Casa de Anthero de Quental abrir ao público.

Livro presumidamente publicado, em 29/Junho/2009, por DANIEL DE SÁ, em "AS ILHAS ENCANTADAS".

Coro da Primavera - José Afonso



Coro Da Primavera

Cobre-te canalha
Na mortalha
Hoje o rei vai nu

Os velhos tiranos
De há mil anos
Morrem como tu

Abre uma trincheira
Companheira
Deita-te no chão

Sempre à tua frente
Viste gente
Doutra condição

Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores

Livra-te do medo
Que bem cedo
Há-de o Sol queimar

E tu camarada
Põe-te em guarda
Que te vão matar 
Venham lavradeiras
Mondadeiras
Deste campo em flor

Venham enlaçdas
De mãos dadas
Semear o amor

Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores

Venha a maré cheia
Duma ideia
P'ra nos empurrar

Só um pensamento
No momento
P'ra nos despertar

Eia mais um braço
E outro braço
Nos conduz irmão

Sempre a nossa fome
Nos consome
Dá-me a tua mão

Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores

Letras de Zeca Afonso

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Ministério Público na Greve Geral

A ler aqui.

A ideia da morte

Coimbra, 24 de Junho [1947] — Acabar com a ideia da morte. Integrarmo-nos na natureza, para que, aos horrores das penas temporais, não juntemos ainda o castigo das eternas. O homem é, ao cabo e ao resto, um animal. Sofra pois como animal, e não como deus.

Miguel Torga, Diário IV, p. 45

Les Deux Saltimbanques: l'Arlequin et Sa compagne, c.1960

Picasso Fototipia Firmado, Les Deux Saltimbanques: l\'Arlequin et Sa Compagne (The Two Saltimbanques: The Harlequin and His Companion), c.1960
Pablo Picasso 
Les Deux Saltimbanques: l'Arlequin et Sa compagne 
(As Duas Saltimbanques: O Arlequim e seu companheiro), c.1960

27 de Dezembro

Escultura de Lagoa Henriques
O escultor Lagoa Henriques nasceu a 27 de Dezembro de 1923, em Lisboa.

Liberdade - Fernando Pessoa por João Villaret

LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,

Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa…

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…

Fernando Pessoa

domingo, 26 de dezembro de 2010

Andorra


A Andorra é um pequeno país europeu localizado num enclave nos Pireneus entre o nordeste da Espanha e o sudoeste da França. Antes isolado, o principado é hoje um país próspero principalmente devido ao crescimento do turismo e por seu status de paraíso fiscal. Actualmente, a população andorrana está listada como tendo a maior expectativa de vida do mundo, com média de 83,52 anos (2007).
O principado é o único país do mundo cuja única língua oficial é o catalão, embora represente apenas 0,22% do total de catalanófonos da Europa. No seu território também são falados o castelhano, o português e o francês, nesta ordem de números de falantes. Andorra também o sexto menor país da Europa, maior apenas que Malta, Liechtenstein, São Marinho, Mônaco e Vaticano.
A capital do país é a cidade de Andorra-a-Velha, também conhecida como Andorra la Velha.
Ainda em Espanha, Zaragoza é um bom local de passagem. 

Os Cordoeiros: Sexta-feira, Dezembro 26 [2003]

Jurisprudência 

O senhor K. considerava modelar uma determinação da Antiga China a partir da qual os juízes, para julgar processos importantes, teriam de ser chamados de províncias longínquas. Desse modo, tinham forçosamente de ser menos corruptíveis, uma vez que os juízes locais que conheciam bem os agentes que traficavam influência, e lhes queriam mal, vigiavam a incorruptibilidade dos juízes estranhos. Por outro lado, tais juízes não conheciam os costumes e a situação da região no dia a dia. E isso era uma vantagem: é que a injustiça toma frequentemente contornos de justiça pela simples razão de ser frequente. Os novos juízes tinham de julgar sem preconceitos, de ser completamente postos a par da situação e do seu contexto; daí que se apercebessem melhor de algumas evidências. E, por último, não se sentiam obrigados, por amor à virtude da objectividade, a ferir tantas outras virtudes como a gratidão, o amor pelas crianças, a inocência do próximo, ou ainda a ter coragem de fazer inimigos entre os que os rodeavam.
Bertolt Brecht, in: Kalendergeschichten

Memórias (1889)


Descrição: Pastel
Localização: Musée Royaux des Beaux-Arts. Bruselas
Autor: Fernand Khnopff (Bélgica, 1858-1921)

sábado, 25 de dezembro de 2010

A cidade sonhada

Quando eu tinha nove anos, a Beira era a maior cidade do mundo. As avenidas de minha terra natal eram as mais largas do universo e apenas se esperava que o futuro, triunfal, por ali desfilasse. Na Praça do Município cabiam os mais demorados domingos da História, e o Chiveve competia com os mais amazónicos estuários.
A estação ferroviária era de tal dimensão que ali poderia desembarcar Sophia Loren ou uma outra artista saída das matinés do Olympia. As mangas do Dondo eram comidas em todo o planeta e, do alto do farol do Macúti, se contemplavam extensões que fariam inveja aos astronautas.
De noite, enquanto nos chegavam os sons dos batuques do Chipangara, eu e o meu irmão discutíamos, especialistas em lonjuras. Ele assegurava que a floresta de Inhaminga era o lugar mais distante do planeta. Eu abria o mapa-mundo e a Beira se confirmava epicentro cósmico. Confortado, adormecia com pena dos meninos que nasciam noutros periféricos lugares.
Certa vez embarquei num avião para rumar a Lourenço Marques. A família veio despedir-se, em lágrimas, ao maior aeroporto do mundo e era como se eu partisse para além do último horizonte. A malta do bairro também foi ao aeroporto e lançou-me um derradeiro olhar, misto de inveja e raiva. Eu ia para território rival, para terra dos «laurentinos», contaminar-me de valores tribais alheios.
Regressei uma semana depois com a suspeita de que havia lugares mais distantes que Inhaminga e cidades maiores que a minha. Nos dias subsequentes, fui colocado em quarentena, punido por confessar que, afinal, outros poderiam haver.
Na altura, eu não sabia que as pequenas cidades vivem sempre o sonho de serem outra coisa. Sonham ser grandes cidades. A minha terra natal, era, afinal, um lugar acanhado, onde o mundo chegava em segunda mão. Talvez, por isso, o tamanho dos nossos sonhos fosse reforçado. Talvez, por isso, o meu lugar tivesse ficado maior quando o soube pequeno. Naquele momento, porém, eu estava sendo penalizado como Galileu que ousou descentrar o cosmos. Deixado em abandono pelos amigos, fui pescar para os lados do porto. Ao passar pelo Beira Terrace, uma multidão me alertou: num lugar onde nada sucedia algo trágico acontecera. Estavam retirando das águas os corpos de dois jovens que se tinham suicidado. Um detalhe me chamou a atenção: estavam amarrados pelos pulsos, um arame lhes prendia o fatal destino. Eram dois namorados, impedidos de exercer o seu amor porque pertenciam a raças diferentes.
Sentado na amurada do cais, sem nenhuma vontade de lançar a linha, olhei a cidade e ela, pela primeira vez, me pareceu pequena. Como poderia ser grande um lugar se nele não cabia o amor de dois anónimos adolescentes? Até àquela tarde eu era ainda um moço capaz de sonhar vidas e viver sonhos.
Naquele momento creio ter entendido: a cidade não é um lugar. É a moldura de uma vida, um chão para a memória. Enrolei a linha, e regressei a casa, o poente avermelhando a paisagem e os flamingos trazendo o céu para junto da terra. Então, ganhei certeza: a cidade em que nasci estava destinada a nascer de mim. Um arame invisível nos prendia os pulsos, a mim e à minha terra natal. Se alguma vez nos atirássemos sobre o abismo não seria para nos afundarmos mas para ganharmos voo, o mesmo voo dos flamingos cruzando os poentes sobre o rio Pungwé.

(Abril de 2007)


Mia Couto, PENSAGEIRO FREQUENTE

José Afonso - Natal dos Simples



Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

Maravillas Variaciones Acrósticas en El Jardín de Miró

Miro Litografía Firmado, Maravillas con Variaciones Acrósticas en El Jardín de Miró (Wonders with Aristocratic Variations in Miró’s Garden), 1975
Joan Miro (Wonders com nobreza Variações no Jardim do Miró), 1975

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz Natal

Jacquie Lawson email stationery

O NATAL DO DR. CROSBY (5 e último)

(Do Diário dum expatriado)

(Dia de Natal)

Agora sim, agora é que vale a pena continuar este Diário. – Ontem fomos jantar com a família da Betsy. A pretexto de fadiga, voltámos cedo para casa, resolvidos a dormir como dois justos, enquanto a Virgem sofre as suas bentas dores. Como dois condenados é que eu devia dizer.
Chegados à nossa rua, o sossego é completo, dir-se-ia que estamos fora do mundo; o seminário, todo escuro, dorme no seu leito de alvura. Só a igreja, lá adiante, tem luz: provavelmente para a Missa do Galo. Perto já de casa, noto que a luz jorra através das cortinas das janelas do vizinho. No silêncio fatigado em que a neve parece forrar o mundo (nevou todo o dia), só desta casa sai uma trepidação de música, de vozes, de risadas. Festa de arromba. O meu primeiro impulso é não entrar. Para que diabo viemos nós tão cedo! Que noite de insónia rancorosa nos espera, com este inferno debaixo dos pés a envenenar-nos a paciência! Temos até de madrugada. «Disparate!», diz a Betsy. «Que lhe importa a você que eles façam música ou barulho, ou estejam quietos? Feche os ouvidos da consciência e durma!» Olho-a quase irritado com tamanho optimismo ou bom senso.
Dentro de casa, percebemos que o cume do escarcéu é por baixo do quarto onde dormimos: então, laboriosamente, mudamos o divã para a sala da frente e instalamo-lo o mais perto possível das janelas, ou seja, tão longe quanto podemos do foco do festim. Acendemos um bonito lume na grelha da chaminé, a casa fica confortável e quente. Muito antes da meia-noite estamos deitados, e eu leio ou fo esforços para ler um livro: na verdade pouco mais faço do que seguir mentalmente, com raiva e maldições, o que vai lá em baixo: batucada, correrias, brados roucos, tinir de louças e vidros. Um autêntico night-club do Village! Tinha razão a Swissabelle quando há dias nos segredou que a casa do professor tem a reputação dum clube de «imorais».
Como de costume, a Betsy não tarda a adormecer serenamente. Como eu lhe invejo os nervos delicados e tão rijos. Mas pouco a pouco lá consigo acalmar também. A verdade é que a gente se habitua a muita coisa, e só quando se rebela e protesta, quando tem uma conflito de consciência ou vontade, e luta interiormente, é que sofre: por isso nos ensinaram a resignação. (Mas uma coisa é sofrer pelo que se sonha, um ideal, e se espera alcançar, e outra é sofrer para que os outros gozem à nossa custa.) Que hei-de eu fazer? Ponho-me a imaginar que estou lá em baixo, a «gozar» na companhia dos vizinhos, do que Deus me livre. bem depois de ouvir tocar o sino para a missa da meia-noite, apago a luz e adormeço também, angelicamente embalado pelo temporal que sacode a casa até aos alicerces.
E nisto desperto, alarmado, a um ruído que vem de fora, da rua, e destoa do rumor fretico em que adormeci. Na lareira o fogo extingue-se, só brasas vermelhas na penumbra. Fico a escutar com o coração acelerado. Alguém bate com força na porta gradeada dos vizinhos, debaixo da escadaria. Calou-se a música, não há um rumor. Uma campainha trepida demoradamente algures, premida por mão impaciente. Depois a porta bate nos engonços como queixadas de ferro, e uma voz de homem, colérica e imperativa, brada:
«Abram esta porta! Abram esta porta!»
A Betsy acordou, e ergue-se num cotovelo a escutar, de olhos arregalados. Murmuro: «Há complicação. É à porta do Crosby.» Saltamos do divã e, embrulhados em cobertores, de joelhos no parquê, ficamos a espreitar para fora, por baixo do estore corrido. Ninguém nos pode ver. Em frente da casa, com a portinhola escancarada e uma roda em cima do passeio, está um roadster claro: percebo agora que foi a travagem brusca, o guinchar dos pneus que me despertaram. Uma curva apertada deixou sulcos profundos na neve do pavimento, grossa de umas quatro polegadas. Os vizinhos apagaram as luzes. Mas enxergo perfeitamente o vulto do homem que abana com raiva a porta de grade e continua a bradar: «Abram esta porta! Jimmy, abre a porta ao teu pai!» De dentro, uma voz mansa responde, tenta talvez apaziguá-lo. «É o Gaylord que fala!», diz a Betsy com um hálito de excitação no meu ouvido. Aperto-lhe a mão sem responder. Aquele homem é então o pai do professor... Vamos ter corpo de delito! «Mas abra a porta!», grita o velho. «Isto é uma vergonha, como se atreve ele a recusar entrada ao pai na noite de Natal?... Diga-lhe que venha aqui falar comigo. Jimmy! JIMMY!...» Repete-se o murmúrio abafado, o velho sacode a porta com violência, cospe insultos para dentro. Já não lhe respondem. Ouço bater a porta interior, e segue-se um silêncio.
Então, o sujeito recua até junto da grade, cambaleando um pouco, e fica a olhar a fachada do prédio. À luz do lampião vizinho e no fulgor da neve posso vê-lo à vontade: é um homem de uns sessenta anos, robusto e sanguíneo, de meia estatura, com o cabelo todo de prata. De sobretudo claro, cachecol, e sem chapéu, tem o ar de quem saiu agora mesmo duma soirée. Percebo que procura descobrir no prédio alguém a quem possa falar, pedir que lhe abra a porta. Tenso, lembra um mastim ao qual a presa escapou. Da sombra do prédio surge uma personagem até agora invisível: um rapaz de gabardine, alto, delgado e pálido, em cabelo, aproxima-se do velho e murmura: «Daddy, daddy, vamos embora pelo amor de Deus!» O velho repele-o com dureza, e o rapaz vai-se encostar à portinhola aberta do carro. Que contraste entre ele e o pai apopléctico! Adivinho neste um autocrata.
O velho parece ter de súbito uma ideia: sobe a correr a escadaria, e daí a momentos um rondó de campainhadas faz vibrar a casa de alto a baixo: mas ninguém abre. Uns estão fora, outros dormem, ou fazem como nós, espreitam esta cena de Natividade malograda. O velho rosna palavras ininteligíveis, depois grita: «Abram esta porta, eu sou o Dr. Crosby!» Ninguém faz caso. Ele volta a descer a escada, arrebatado, transpõe o passeio dando um empurrão ao rapaz, que tenta detê-lo, corre para o meio da rua, pára, e no silêncio branco que forra a noite põe-se a gritar:
«Ninguém se atreve a aparecer, a abrir uma porta ou uma janela... Mas eu sei que estão todos a escutar por detrás das cortinas! Pois então ouçam: eu sou o pai desse miserável que mora ali. É noite de Natal, vim para ver o meu filho, sou um pai que quer ver o seu filho numa noite de festa, e ele não me deixa entrar em casa. Não abre a porta ao pai! Desde que a mãe morreu, há três anos, nenhum dos meus filhos me tornou a visitar! Mas não é só isso... Este meu filho é a vergonha da minha cara! É um pederasta. Um pe-de-ras-ta! Esta casa é um clube de invertidos e travestis! e ele não quer que o pai veja... Quero que todos saibam! Os meus filhos são uma corja de imorais...»
O velho, rubro e sufocado de furor, cambaleia na neve, cala-se um momento, fica especado à espera de resposta. Mas só os torrões de neve que tombam surdamente dos beirais parecem responder-lhe. A Betsy aperta-me o braço com terror, vergonha ou piedade. Vermelho, desenfreado, com os cabelos de prata soltos na noite fria, o velho arremete de novo contra o prédio como se viesse demoli-lo. O seu vigor assombra. À passagem dele, o rapaz, que chora com a cabeça apoiada no carro, diz numa voz de súplica: «Daddy, por favor, vamos embora... Daddy!» O velho vira-se e atira-lhe à cara um vago murro de bêbedo, que o não atinge. Depois agarra-o como se quisesse forçá-lo a entrar no automóvel.
Alguma coisa, um rumor o interrompe: são três homens que se aproximam, três vagabundos mal enroupados que vêm do lado das docas, de mãos nos bolsos, e param a ver a cena. O Dr. Crosby larga o filho, aborda-os resolutamente e põe-se a falar em voz baixa com eles, agarrando-os pelas lapelas: não ouço o que diz, mas pelos seus gestos enérgicos percebo que lhes conta e explica o que se passa na casa. Dá-lhes instruções, talvez. Mete a mão num bolso e começa a distribuir dinheiro aos noctívagos, que o aceitam com sofreguio. No fim recua dois passos e ouço-o dizer: «Fiquem aqui! Desta casa não sai ninguém!» Os três bums assentem e postam-se em frente da grade. O velho empurra o filho para dentro do carro, corre em volta a tomar assento ao volante, põe o motor em marcha com fragor, e parte, derrapando e patinando na neve, perigosamente. O tapete branco da rua fica todo sulcado e revolvido. O silêncio fecha-se. A Betsy murmura: «Foi chamar a polícia...» E eu respondo: «Com que direito é que estes mariolas me guardam a porta?» Sinto vontade de ir lá fora, agora até era capaz de armar em defensor do vizinho. A Betsy aperta-me mais o braço, retém-me.
Os três noctívagos olham a casa e parlamentam entre si no silêncio da rua. Um deles aproxima-se da cancela, hesita, depois entra. Ouço ranger uma fechadura, a porta de grades guincha nos gonzos, e o Gaylord, em cabelo e sem casaco, sai e põe-se a falar com eles. Todos acenam enérgicas afirmativas à explicação que ele lhes dá: e de novo estendem as mãos às notas. O Gaylord desaparece, e eles vão postar-se a distância, separados, como vedetas. Percebo tudo. Dentro de casa, onde há pouco era um silêncio de túmulo, vai agora uma agitação de preparativos: ouço correr, batem portas, há apelos sussurrados. «Vão sair por cima, pela escada – murmura a Betsy. – Para que ninguém diga que os viu sair cá de baixo!» Com efeito, não tarda que ouçamos um tropel de passos abafados na escada interior, ao fundo do hall, e depois nos mosaicos. A porta da frente abre-se, e um a um, cautelosamente, olhando para a esquerda e para a direita, os convidados do meu vizinho descem a escadaria, detêm-se um instante em frente da grade, depois, com um breve adeus, afastam-se rapidamente, dispersam para leste e oeste, carregando embrulhos... Homens e mulheres (sei eu lá se são mulheres?), alguns aos pares, outros em grupos, não tenho tempo de contá-los, talvez dezoito, vinte pessoas. «Os embrulhos são as roupas dos travestis!», explica a Betsy, rindo. Tudo isto durou instantes. A porta volta a fechar-se, a luz acende-se em baixo, e o Gaylord reaparece, faz um sinal aos bums, que se aproximam: dá-lhes uma garrafa, genebra ou whisky, com certeza. Boas-festas, Natal feliz! Despede-os, eles agradecem com efusão, vão-se embora. A porta range de novo, gira a chave na fechadura, a porta de dentro bate, correm ferrolhos – a paz reina enfim na rua deserta! Só a neve guarda os sinais do incidente.
«Achas que se acabou o show?», pergunto à Betsy. «Qual! O velho não tarda aí com a polícia... Vai começar o segundo acto!» Agarra-me num frenesim de excitação, ansiosa por saber no que a coisa vai dar. «Fica aqui à espreita enquanto eu vou fazer café», digo-lhe. A casa esfriou – passa das duas da manhã – e isto está a pedir um reconforto. Corro à cozinha, e mal acabo de pôr a água em cima do gás, ouço um silvo de cobra – é o sinal da Betsy! Volto ao nosso posto de observação a tempo de ver o Dr. Crosby travar o roadster com um solavanco tremendo em frente da cancela. Salta a correr, seguido do filho vagaroso. A rua deserta, o velho olha em volta: «Onde estão esses vadios?» Furioso, de punhos cerrados: «Não há um polícia! A polícia só aparece quando não é precisa!» Lança às fachadas um olhar desvairado, corre para a porta, rosnando palavras incoerentes, e desata de novo a sacudir a grade: «Abre esta porta, canalha, maricas, pederasta! Abre a porta ao teu pai!» Capaz de rebentar com os ferros! A minha vontade era abrir a janela, dizer alguma coisa... «Nem penses nisso!» Oh senhor, toda esta gente, a vizinhança a ouvir, e ninguém faz nada?
Nisto, reconheço a voz do meu vizinho, que grita lá de dentro, histérico:
«Vá-se embora, Dr. Crosby! Vá-se embora! Ou ainda se há-de arrepender!» Há uma ameaça parricida, enregelante, na voz do pederasta. «Abre a porta, miserável, degenerado!» O velho deixa a porta, e atira-se às janelas por baixo das nossas: ouço um estilhaçar de vidros. Através das grades, ele parte as vidraças todas a murro. Sinto-me empalidecer. A Betsy já treme, tem as mãos geladas, bate os pés de impaciência. «Meu Deus, isto vai acabar mal...» Dentro de casa há gritos agudos. O rapaz vem correndo da rua para agarrar o pai, detê-lo ou arrastá-lo consigo: o velho atira-o de costas contra a grade. Ouço a voz perdida do professor, em baixo: «Deixa-me! Deixa-me! Eu faço-o pagar! Larga-me...»
Pressinto tudo: o Gaylord tentando agarrar o amigo, que quer vir à janela para... E nisto ouço um estilhaçar de louça, o baque dum corpo, um ronco sufocado: «Anda, miserável, pederasta! Vem cá para fora, vem bater no teu pai!» – Travam luta através das grades! De fora, o rapaz voltou à carga, tenta prender os braços do pai, que se aferram às grades. «Daddy, daddy, veja o que faz!» Pelas sombras na neve vejo agora o que se passa. A Betsy torce as mãos de terror... Levanto a janela com um puxão e curvo-me para fora. O velho, com os braços enfiados pelas grades, sacode furiosamente alguém que está dentro da casa: ouço uma voz abafada, um estertor – deitou talvez as mãos ao pescoço do filho, e vai esganá-lo! Uma voz brada: «Socorro! Socorro!» O rapaz tenta desesperadamente arrancar o pai dali... Já me preparo para saltar da janela assim mesmo, quando vejo um braço que sai pelas grades agitando um objecto escuro. O velho solta um ronco, e recua cambaleando, amparado pelo filho. A Betsy puxa-me para dentro: «Fecha a janela, pelo amor de Deus!»
Ao fim da rua o berro duma sereia rasga o silêncio, depois outro e outro. Carros da polícia convergem de todos os lados, num smorzando de sereias. Dum instante para o outro, o passeio e o espaço em frente da casa ficaram cheios de polícia e de gente. (No seminário não há uma luz: tudo voltado para a Eternidade!) Os faróis enchem a rua de clarões e a neve de sombras alongadas. O Dr. Crosby ficou estendido, inanimado. Parece roxo, e de repente empalidece... Abrem-se as portas, os agentes entram na casa. São quase três horas, chega a ambulância. O interno faz um exame sumário do corpo, enquanto a polícia mantém a distância os curiosos (entre eles avisto, dissimulados, os três bums das docas, que voltaram). Levantam o corpo na padiola, a porta da ambulância bate, o filho mais novo, esquecido, soluça encostado ao gradeamento. E nisto vejo o Crosby sair de baixo, amparado no amigo, choroso, com o pescoço amarrado, arrastando a perna... E tenho pena dele. Bonito Natal nós vamos ter. Esta noite já não prego olho!
Sentados a tomar café, digo eu: «Tenho o pressentimento de que não vou conseguir fazer o meu trabalho sobre o Espinosa nesta casa. – Trabalho? Espinosa? Você vai ver, um dia destes vai tudo para a rua. Casa onde entre a polícia...»

( de Dezembro)

Afinal o velho escapou: ameaço de congestão e laceração do couro cabeludo. Quem ficou no Bellevue foi o meu vizinho, a tratar-se dum «ataque de nervos» e duma inexplicável lesão da traqueia (esganação, digo eu).
A Betsy tinha razão: recebemos hoje uma nota da agência de aluguéis: no fim de Janeiro vai tudo para a rua, começam obras grandes no prédio. E eu que estava aqui tão bem!
Até quando, meu Espinosa! 



José Rodrigues Miguéis