quinta-feira, 10 de março de 2011

ESPOSENDE (2)

Impressão geral. (1) — «Existe um quadro bíblico formoso, em que Susana, casta como o cetim nevado das camélias, entra no banho timidamente, sem suspeitar que a estão vendo. Pois essa impressão casta de frescura, essa tímida cor modesta encastoada no azul, sente-a quem pela primeira vez surpreende a deliciosa filha do Cávado, sorrindo para o seu eterno e ciumento noivo — o mar».
Esta tirada poética e de sonoro simbolismo é do inimitável paisagista do Minho Pitoresco, José Augusto Vieira — esse tão simpático escritor do Alto-Minho, tão cedo roubado à vida e às letras. O primoroso estilista enaltece, com razão, as belezas discretas da ribeirinha vila de Esposende, na verdade pobre de monumentos, mas pletórica de matizes, desde os tons azuis e esmeralda do seu rústico alfoz às ourescentes dalmáticas poentinas da campina atlântica envolvente. O mar, o rio, a serrania, a floresta, a largueza dos horizontes —, tudo, de mãos dadas, empresta à sua paisagem estranha sedução.
(1) Por Manuel de Boaventura.

Tema extraído do GUIA DE PORTUGAL, ENTRE DOURO E MINHO (4.º VOLUME), II – MINHO, p. 970 e s.

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