25 - Março (sábado). Outra vez as tonturas na cabeça, a ameaça de perder os sentidos. Tudo porque bebi uns copos ao almoço e fumei um cigarro para escrever. Arranquei em força o Capítulo XI do romance (a história do Firmino) e tinha o impulso para o levar todo de enfiada. Mas tive de parar. A minha falta de talento foi sobretudo sempre a falta de saúde. Para mais ontem o Alberto e Verinha (embaixador do Brasil) vieram cá a casa e eu julgava que era só por simpatia. Era para eu «apresentar» um livro dele no dia 18 de Abril na Torre de Belém. Disse que sim, pois. Mas tremo à ideia de não ser capaz. Ter de ler, pensar, ir lá tão longe, aguentar a sociabilidade e dizer coisas e ter talvez alguma piada. Horror.
conta-corrente - nova série I (1989), p. 56 e s.
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