27 – Março (segunda). Estou a ler o livro do Alberto da Costa e Silva para pensar a apresentação. Antes de mais julguei que o Alberto tivesse nascido no Brasil por distracção. Obrigou foi a mãe a jurar que o faria lá nascer. Há mesmo no livro um certo proselitismo ou chauvinismo intenso. Mas o que mais me incomoda é a defesa que ele faz da arte primitiva africana contra todo o europeísmo. Pobre Alberto. Nunca pensou nesta coisa elementar e é que foi a Europa em crise quem descobriu e valorizou a arte primitiva. Mas valorizando a arte negra, A. C. S. refere-se ao barbarismo de tais civilizações – sem uma palavra de restrição ou recusa. Tais pretos degolam «cruamente» as mães ou asfixiam crianças ou degolam-nas igualmente. Não, a Europa está aflita. Mas ainda é a capital do Mundo. E tal mundo para vir ao de cima da vida e autonomia e regresso, é da Europa que faz as importações. Nem que se trate de mercadoria estragada como foi o marxismo para a China.
conta-corrente - nova série I (1989), p. 57 e s.
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