sábado, 19 de março de 2011

Os Cordoeiros: Sexta-feira, Março 19 [2004]

Orfandade

"A crise do Ocidente" já não tem lugar. Não existe crise, o que existe mais do que nunca é orfandade. Deuses obscuros tomaram o lugar da luminosa claridade, aquela que se apresentava, oferecendo à história, ao mundo, como o cumprimento, o término da história sacrificial. Hoje já não se vê o sacrifício: a história tornou-se para nós um lugar indiferente onde qualquer acontecimento pode ter lugar com a mesma vigência e os mesmos direitos que um Deus absoluto que não permite a mais leve discussão. Tudo está salvo e, ao mesmo tempo, vemos que tudo está destruído ou em vésperas de se destruir.

María Zambrano
Madrid, Julho de 1987

Patético

Juntar a jornalista Tânia Laranjo, do JN, e o dr. António Pinto Ribeiro, da associação unipessoal Fórum Justiça e Liberdades, é patético. No português e nas ideias. E é de desconfiar no que diz respeito aos propósitos. Digo-o sem ironia: esperava mais destes reputados especialistas em matéria penal.
Para confirmar: aqui.

A.R.

Trancas na Porta

Os serviços secretos sempre exerceram um grande fascínio sobre as pessoas, incluindo os políticos. Nomeadamente naquelas e naqueles que nunca leram “O Nosso Agente em Havana”, de Graham Greene. O cinema ajudou à festa, e serão poucos os que alguma vez não sonharam estar de posse dos mistérios deste mundo. Com alguma leviandade, volta-se a falar dos serviços secretos, da inteligência anglo-saxónica, como se o seu desempenho no passado fosse garantia de eficácia e de bom senso no futuro. No que diz respeito ao presente, estamos, tragicamente, falados.
Os serviços secretos são, hoje, cada vez mais, a voz do dono. Tornaram-se máquinas pesadíssimas, mais preocupadas em sustentar a sua sobrevivência do que em prevenir a nossa segurança. Por isso mesmo, a sua vocação atávica é a de produzirem dados e perspectivas, ainda que delirantes, que sabem ir agradar a quem lhes paga: o governo. Aliás, é o que se passa com o comum dos mortais. A bruxa que se respeita é aquela que nos diz aquilo que queremos ouvir.
Desde a queda do muro de Berlim à invasão do Iraque, os serviços secretos ou chegaram tarde ou subsidiaram mentiras. Até no caso da Roménia, foram apanhados de surpresa.
Em Portugal, os serviços secretos são o que são: portugueses. E, como tal, secretamente dependentes da informação alheia. Eu gostava de conhecer os relatórios dos espiões que analisam a informação divulgada pela TVI ou que perspectivam a análise do comentador José Fernandes. Da realidade à ficção, a distância deve ser curta. Às vezes, mesmo inexistente.
União Europeia anda preocupada com o desempenho dos serviços secretos dos seus membros. O nosso comissário em Bruxelas afadiga-se na procura de soluções. O Diário de Notícias (1) de ontem, escrevia, em letras gordas, na primeira página, que a cultura de secretismo dificulta cooperação. Mas o que se espera de uns serviços secretos senão secretismo?
Não conheço nenhum espião nem frequentei o curso de defesa nacional. De tácticas, conheço as do treinador Mourinho, e, de estratégias, as do Professor Marcelo. A moral que quero tirar de tudo isto é a de que, tal como na actividade política, também em matéria de segredos, depois da casa roubada, trancas na porta. Ou seja, mais segredos ainda.

(1) O DN é o único jornal de referência português. Quem tem o Vasco Pulido Valente tem tudo.

A.R.
# posto por til @ 19.3.04

Ei-los

Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos

Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não


Letra e música de Manuel Freire
Mais letra aqui
# posto por Rato da Costa @ 19.3.04

"Ensurdecedor silêncio"

Irreflexões, referindo-se a esta chafarrica, admiram-se com o silêncio ensurdecedor que nestas bandas se ouve a propósito da "corrupção na máquina fiscal".
Compreende-se a admiração.
Explica-se, na medida do possível: Os Cordoeiros, que não são um blogue institucional, abstêm-se, por princípio, de expressar opiniões sobre casos judiciários concretos, muito em particular quando estão pendentes. O que não quer dizer que estejam indiferentes, ou que o seu silêncio signifique conformismo...
# posto por Rato da Costa @ 19.3.04

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