Coimbra, 16 de Março de 1979 — É um facto. Acontece, realmente, que muitas vezes, quando o leitor, cumpliciado na catarse, queria continuar junto de mim pela noite fora a ouvir confidências, tiro subitamente os óculos, deponho a caneta, fecho o caderno e apago a luz. E chovem protestos e acusações. Que assim e assado, que faço batota, que nos momentos cruciais oculto o que devia escancarar. Ora a verdade é outra. Se há pecadores que se confessaram na vida, pertenço ao rol. Mas confessado decorosamente, com peso e medida, sem macerações patéticas. Desobriguei sempre e continuo a desobrigar a consciência atormentada numa barrela de sinceridade contida. O que não disse, nem eu o quero saber.
Diário XIII