O ano despediu-se de Barroso com um bonito nevão. No costumeiro dizer dos lavradores, foi oiro!
Os campos estavam a ser queimados pelos ventos, pelo sol, pela geada. O rio ia quase seco. Nem água há para as trutas desovarem… – lamentavam-se os pescadores.
Esta primeira nevada Outono-Inverno despertou, nos meus vizinhos, esperanças de salvar o ano agrícola. E, em mim, saudades antigas. Dos meus tempos de juventude, quando, em dias de neve, manhãzinha, agarrava num cacete e ia aos coelhos.
Nesses belos tempos, mal a gente saísse de casa, deparava com um rendilhado infindável de rastos de coelho e de lebre. Era só escolher um, de preferência o mais fresco, segui-lo e ver onde o láparo ou o lebroto acamara e vibra-lhe uma cacetada. Desporto proibido, mas apaixonante, a exigir olho vivo e pé ligeiro.
Neste fim-de-semana não resisti à tentação de ir recordar tempos idos. Equipei-me a preceito e saí para os montes. Que desolação! Bati o termo de Peireses de lés a lés e não encontrei um rasto de coelho para amostra. Apenas o de quatro perdizes em grupo e o de uma lebre solitária. Que não segui, claro. O das perdizes por ser tempo perdido. O da lebre porque, mesmo que ela me viesse ter com o pau, a deixaria ir em paz.
É esta a fartura com que os caçadores da minha terra podem contar na próxima época: a criação de quatro perdizes e duma lebre. Se, na próxima Primavera, as quatro perdizes e a lebre chegarem a nidificar. Sim. Porque pode dar-se o caso de as quatro perdizes serem todas fêmeas (ou todas machos) e de a lebre não encontrar parceiro (ou parceira). Ou de nenhum deles (ou delas) chegar à Primavera.
Regressei a casa com estes tristes pensamentos na cabeça e toda a beleza da nossa terra nos olhos.
Bento da Cruz, PROLEGÓMENOS – Crónicas de Barroso (p. 46 e s.)
Agora que descobri o caminho, estou de volta. Estes pequenos textos são uma pequena maravilha.
ResponderEliminarVou procurar isto num alfarrabista aqui pelo Chiado.
José Forte
Um abraço até próximo reencontro...
ResponderEliminar