terça-feira, 5 de abril de 2011

ANOS DO CORREIO DO PLANALTO

– Correio do Planalto faz hoje anos. Recordo-me da alegria com que o vi nascer: balbuciante, ingénuo, sonhador – quixotesco. Dei-lhe a mão e disse-lhe:
– Vamos, paladino!
– Aonde?
– Endireitar o mundo.
– Parece-me mais fácil endireitar a sombra duma vara torta.
– Não me digas que, acabado de sair dos cueiros, já és lido em D. Frei Amador Arrais, padre Manuel Bernardes e Camilo Castelo Branco. Esses é que estavam convictos da impossibilidade de endireitar a sombra duma vara torta. Mas eu suplantei-os. Descobri a quadratura do círculo.
– Como assim?
– Endireita-se a vara e está o caso resolvido.
– Sabes quem me fazes lembrar?
– Arquimedes.
– Não me digas que também conheces o engenioso hidalgo?
– Conheço e quero seguir-lhe o exemplo: auxiliar os fracos e combater os déspotas.
– Sozinho?
– Contigo.
– Queres então fazer de mim o teu Sancho Pança?
– Até os heróis precisam de comer. Portanto, vai tratando dos alforges.
– Avante, paladino!
Este diálogo tem vinte e tal anos. Vinte e tal anos de jornada e aventura. De aplausos e de pedradas. De alegrias e de tristezas. Vinte e tal anos de camaradagem.
Dos companheiros do primeiro dia, alguns foram ficando pelo caminho. Aqui os recordamos com saudade: António Loureiro, Justino Alves, Joaquim da Cruz.
Outros, talvez cansados de esgrimir contra moinhos de vento, embainharam a espada.
Também desses sentimos falta e saudade. Aqui lhe deixamos um apelo para que voltem. Nos ajudem a manter a chama acesa. Correio do Planalto já foi um clarão nas trevas. Hoje está reduzido a esta chamazinha no crepúsculo.
A pedir que lhe restituamos o brilho e a vitalidade de outros tempos.
A mim, barrosões de boa vontade! Ainda há muito obscurantismo e muita hipocrisia na nossa terra. A eles, como Santiago aos mouros!

Bento da Cruz, PROLEGÓMENOS – Crónicas de Barroso (p. 44 e s.)

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