6 – Abril (quinta). É uma jovem muito linda e muito jovem. Debruça-se do viaduto da avenida de Roma com os livros ao peito e chora. Pergunto-lhe o que tem, pondo-lhe a mão no pescoço. Diz-me que não tem nada, volta a chorar mais forte. Então eu insisto e pergunto se precisa de alguma coisa. E ela diz-me: de nada. Desprende-se da ponte e rompe quase a correr pela avenida fora. Era muito jovem, uns 15 ou 16 anos. E chorava. Fiquei a olhá-la um momento por entre a gente que passava.
*
A cabeça, a cabeça. O risco de cair, a ameaça de cair. Fui às livrarias, mas saí logo. Agravamento da coisa com o simples folhear dos livros. Havia ar fresco na rua. Lavei nela a cara, melhorei. Mas tinha de não pensar na tontura e não olhar o chão. Até que enfim cheguei a casa. Escrevi duas linhas do romance (Capítulo Xl).
conta-corrente - nova série I (1989), p. 61 e s.
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