6 - Maio (sábado). A cabeça. O fervor interno nela e os zumbidos nos ouvidos, como quando se tem febre, especialmente no esquerdo, que é da maior surdez. Um impulso interior contra os olhos que me apetece exorbitar para os dominar. Uma crispação nervosa que me sobe até ao pescoço e se instala aí em aflição. Um mal-estar geral, uma fadiga. Um desespero mudo que apela absurdamente a um choro desistente. E por sobre tudo, uma incapacidade de fumar e de escrever. Mas então isto agora vai ser sempre assim? É arrumar a escrita e a vida? Afundar-me em paciência e ficar à espera? E de quê?
De todo o modo, vou perdendo em saúde o que vou ganhando em sabedoria. Desprendido de tudo. Da ambição do de que me reconheço. E existir no que me fez existir. Regressar a mim. Fechar a porta à chave. Com duas voltas.
conta-corrente – nova série I (1989)
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