29 - Maio (segunda). Quando o Gilo vai ao Algarve passar fins de semana numa casa que a Helena lá tem, telefona a dizer que chegou e depois, que regressou. Ontem esperávamos o telefonema do regresso. Era já noite e, não havendo notícias, telefonou a Regina. Responde a Helena. Tinham tido um desastre perto de Setúbal. Viemos logo para Lisboa. Foi um desastre espectacular em que por espantoso acaso a morte não compareceu. Chovia forte, Gilo em velocidade desliza contra a separadora das duas pistas, é arremessado contra a do lado oposto, resvala por uma ravina, o carro rola sobre si e ficou em sucata. Gilo ficou com fractura da clavícula, vértebras amassadas, corte na cabeça. Helena com contusões e hematomas em todo o corpo. Gilo de cama um mês. E eu, pelo pânico do que devia ter acontecido, fico convulsionado, mas a Regina irrita-se porque nada de muito grave acontecera. Simplesmente eu sinto que podia ter acontecido. Assim a vida se nos equilibra num susto constante que é decerto a sua verdade de ser. Até se consumar no desequilíbrio definitivo que é a verdade da morte.
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