terça-feira, 3 de maio de 2011

Vergílio Ferreira (3 de Maio de 1989)

3 - Maio (quarta). ln illo tempore, no tempo em que eu andava em Coimbra. Ouço uma balada e a evocação vem a galope. E o que veio desta vez foi a hora da despedida.
Não havia, creio raro haver a tristeza de que se fala. Parte-se para a vida, para o futuro, para a realização do que durante anos se projectou. E mesmo os amigos de quem nos separamos, voltaremos decerto a vê-los novamente em Coimbra, em Lisboa, na província. No final do meu tempo (que foram cinco anos de curso e dois de estágio), havia lá um bobo como há sempre alguns que a academia sustenta com espórtulas e eles a ela com piadas. E o trunfo dele era chegar-se por trás a alguém, deitar-lhe com jeito a mão às suas partes mais sensíveis e dizer-lhe «bolinhas». Assim o identificávamos e chamávamos o «Bolinhas». Ora eu tinha o meu grupo nesse fim de festa que um pouco o acaso organizou e não sei pelo engenho de quem passámos a chamar o grupo do «Bolinhas». Fizemos um jantar de despedida num restaurante da rua da Sofia e em cartões desse restaurante escrevemos uns aos outros a nossa mensagem para o futuro. Tenho os meus em Fontanelas e hei-de passá-los para aqui. São ingénuas e convictas e até com algum arremesso como é próprio de quem pensa ter futuro. Variamente o tivemos que é feito de vós, amigos? Bandeira, morto. Fred, morto. Do resto não sei. Eu incluído.
conta-corrente – nova série I (1989)

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