Coimbra, 5 de Maio de 1979 – Não há que ver. A conversa arrasta-se penosa, cheia de silêncios, de interjeições, de reticências. Mas entra em cena um terceiro figurante, afim do meu interlocutor, e tudo muda repentinamente. Agora o diálogo parece mover-se sobre rodas. É um comércio amável de factos, de recordações, de anedotas. Conhecem as mesmas pessoas, estiveram na mesma praia, admiram as mesmas mulheres. E estimam-se nessa cumplicidade, nessas afinidades. Entretanto, eu, esquecido, atónito, marginalizado, olho impotente aquela trama verbal onde não caibo. A minha singularidade foi sempre o meu desterro.
DIÁRIO (XIII), p. 92
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