Vila Real, 11 de Maio de 1979 – Uma noite em claro, a ouvir todos os ruídos parasitas do mundo. Vizinhos de quarto a ressonar, cães a ladrar ao longe, madeiras a estalar, passos cadenciados na calçada, horas inúteis badaladas na torre da Sé. De nada me valeram os mil truques a que recorri para adormecer. Quanto mais tentava ignorar a realidade, mais ela me entrava pelos sentidos. E chego ao amanhecer a pensar se a minha vida inteira não estará figurada no que fui durante esta longa insónia. Uma solidão sem solidão. Uma consciência humana que se quis privada e devoluta, abusivamente transformada pelo destino numa espécie de sótão atravancado por mil coisas que não prestam.
DIÁRIO (XIII), p. 93
Navegando o 11 de maio de 1979, a minha data de nascimento, encontrei a sua publicação... não conhecia, gostei muito! Obrigado
ResponderEliminarJoão Botelho