sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

[1989] 4 – Fevereiro (sábado)

Hoje ao sair do Restaurante do Zé, fiz um movimento sacudido da cabeça e fiquei tonto. Esperei que a coisa passasse, mas tive de me encostar ao muro da casa do sapateiro. Retomei a marcha — a Regina ficara na loja — e fui ao Café Coreto buscar os jornais. Recebo os jornais, sento-me a uma mesa a folheá-los. Nova tontura e levanto-me para reagir. Vejo a Regina que chega, retomamos a marcha para casa. Mas as tonturas voltam a perturbar-me. Sentes-te mal? — a Regina pergunta. Digo como me sinto, vou querendo de vez em quando recompor-me. Mas já perto de casa não aguento mais. Senta-te — insiste a Regina. Sentei-me. Mas entretanto passa um carro, um homem vem ver.
— Deite-se.
Deito-me no chão. O homem toma-me o pulso, pulso normal. Quero ir para casa. Levanto-me, o homem diz-me que não é médico, mas dá conselhos e suspendo-me da pessoa dele. Entramos em casa, mede-se a tensão — está normal. Fico ao fogão. Depois estendo-me na cama. O homem diz-me que é engenheiro. Não o conheço. Não me conhece. Mas houve um momento em que ele teve o gesto de ser humano e eu de ele o ter sido. E houve humanidade que nos envolveu a todos e bastou para encher este sábado de sol. É um sol nítido e frio. O céu é azul. 
VF

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